quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Filhos-da-puta

Aqui há uns anos uma pessoa que conheço proximamente mas cuja relação filial para comigo não vou revelar de forma a evitar que possa se identificado (o meu pai), foi chamado a tribunal a depor num caso em que um colega chamou a outro filho-da-puta. O argumento do advogado de defesa era que chamar filho da puta não era ofensivo, pois referia-se a uma puta abstracta, enquanto que se o agressor tivesse dito filho de uma puta, aí sim seria ofensivo, pois estaria a referir-se à puta concreta que pariu o agredido. O meu pai respondeu qualquer coisa do género: não sei se o 'da' ou 'de uma' é mais ofensivo, só sei que na minha casa não nos tratamos assim e se o fizéssemos isso seria má onda (o meu pai não disse obviamente má onda). Ora porque razão se referiu o meu pai ao ambiente da sua casa como sendo o contexto mais importante nesta argumentação, em vez de se ter referido a qualquer outro contexto em que a ausência de crispação é importante para a normal concretização de uma série de actividades essenciais à vida? Porque naturalmente o ambiente familiar é visto como aquele onde o ser humano se forma e como tal aquele onde é mais importante adoptar comportamentos conducivos ao desenvolvimento de um respeito salutar pelas normas de comportamento em sociedade. Além disso, neste mundo cruel e frustrante em que vivemos, em que tantas pessoas no facebook estão permanentemente indignadas com outras pessoas que estão constamente a falar mal delas pelas costas e a apunhalá-las e a desejar vê-las cair, apenas para no fim perceberem que afinal quem diz é quem é, cara de cú, pés de chulé, dizia eu que neste mundo, o ambiente familiar deverá correctamente ser visto como uma redoma dentro da qual podemos ser nós próprios e desenvolver as nossas potencialidades enquanto seres humanos. Isto se o vosso parceiro não for um filho de uma grandesíssima puta, mais preocupado em constrangir-vos do que em apoiá-los, ou se a pré-mencionada puta não estiver constantemente a interferir nas vossas vidas e a foder-vos a relação, ou se um (ou ambos) dos progenitores não for um alcoólico que acha por bem desancar quem a ele está preso emocionalmente, ou se, pior ainda, não houver filhos da puta de pedófilos na família, que usam a tal dependência emocional para manter os abusados em silêncio, ou se não viverem num ambiente social em que vê por bem que um dos parceiros tenha que se subjugar à vontade do outro, independemente de o tal outro ter ou não razão. A família será portanto a tal redoma se estas condições não se materializarem. Coisa simples.

Mas agora analisemos isto do ponto de vista Marxista, que será obrigatoriamente o ponto de vista que todos teremos que adoptar quando tomar posse o governo revolucionário do António Costa: será a família verdadeiramente a célula social na qual se formam os indivíduos ou serão as suas dinâmicas internas produto das relações sociais de produção que dominam esta sociedade malvada a que chamamos Capitalismo? Significa isto que o meu pai é um capitalista, um traidor da classe operária? Terei eu sido privado de futuro histórico como resultado da traição óbvia do meu pai, que colocou a família no centro da sua argumentação, quando deveria claramente ter optado por uma análise classista do problema? Por que não questionar se a opção pela prostituição atribuída à mãe do ofendido seria na verdade o resultado da sua condição proletária, que a obrigou a levar ao extremo a ideia de vender o seu corpo no mercado de trabalho, que comos todos sabemos é o único recurso disponível para os que não detêem os meios de produção? Seria como tal o agressor um burguês miserável, regozijando-se com a opressão por ele produzida?

Tudo isto para vos dizer que o Cavaco é um palhaço.

Como pessoas de bem que sois já tereis certamente ouvido isto, mas aqui fica outra vez: