terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Olhem-me bem para esta cara de parvo


O cabelo esvoaçante, a cara de enjôo sério, a gravata com nó inglês.

E este texto... nossa senhora nos acuda!

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

p'ró caralho

P'ró caralho, puta de vida, que se fodam os portugueses e os espanhóis e os chineses e os Alemães e os peruanos e os surinameses e todos os caralhos que habitaram este planeta desde sempre, agora e para sempre, caralho, merda, puta, foda-se para todos

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Este blogue é feminista

Não sabia quem era a Stoya; agora sei; e a minha vida é infinitamente melhor.

Acalmem-se por favor e deixem no esgoto as vossos comentários rebarbados e/ou misoginistas, de quem não aceita a liberdade sexual feminina. Eu também não a aceito mas pelo menos aceito que o facto de não a aceitar tem tudo a ver com as minhas inseguranças e a necessidade masculina e heteronormativa de controlar os corpos daquela metade da população mundial cuja simples existência significa um burbulhar de desejos e confusões na minha cabeça. Pois obviamente é daqui que vem a misoginia: desde há muito tempo que os homens que pensam e escrevem querem não só escrever e pensar mas também condicionar o mundo. Há um desejo de ter poder muito forte por trás de filósofos e teólogos e escritores e merdas afins, que os impele a querer responder a questões sobre quem somos, de onde vimos, qual a natureza do espiritual, quem criou o mundo e o que quer quem o criou. O facto de tantos se terem virado contra as mulheres, desprezando-as, relegando-as para posições de pouca importância ou activamente odiando-as, como fizeram particularmente os escritores religiosos, tem o ver com o contraste entre por um lado o desejo de racionalizar o mundo e exercer sobre ele poder através do condicionamento do pensamento dos outros e por outro lado a irracionalidade do desejo sexual. Estes homens querem ser racionais, pensar o mundo de forma categórica e porventura conseguir-lo-ão nalgumas matérias, mas depois saem à rua e vêem um gaja boa, linda, com as mamas empertigadas e o rabo apetitoso e perdem-se de desejos e querem ter essa mulher mas não conseguem, porque são uns totós com os quais nenhuma gaja boa quer foder. Em vez de se virarem para dentro culpam as mulheres, dizem que a carne é pecado, que foi a puta da primeira mulher que nos expulsou do paraíso porque não foi capaz de comer outra fruta para sobremesa e quis maçã. Não meus amigos, projectar na mulher o pecado porque o desejo de pecar nos condiciona não é bem feito. É feio.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Vai-te embora

Gosto de músicas que celebram o fim das relações, o vai-te embora, a independência, a importância da solidão. Uma canção perfeita seria apenas um loop repetitivo de: 'vai p'ró caralho e deixa-me em paz' mas não existindo há coisas parecidas. Claro que a mais celebrada é o I Will Survive, uma canção perfeita. Mas há outras, como esta:


Mesmo entre os cantores merdosos e com cara de parvos existem alguns bons exemplos:


O gajo tem que dizer perdoname porque esta merda tem que vender, e as pitas de 15 anos não estão preparadas para ouvir um: joder tia, desampara-me a loja! Mas há aqui uma raiva bonita e purificadora.

Claro que aquela que mais se aproxima da perfeição, que combina a raiva, a frustração, o alívio e a confusão que resultam de mandar um amante para o caralho é esta:


Não há que dizer nada mais: confiei em ti minha puta (ou meu cabrão) e agora já não confio. Aqui está tudo o que é preciso dizer. Nem implica que tenha havido traição ou quebra de confiança: o confiei em ti inclui tudo, confiei que ia amar-te, confiei que ias valer a pena, mas afinal não. Acabou-se, deixa-me em paz.

Deviamos celebrar o fim das relações. Sempre que vejo alguém falar da dor que persiste anos após o fim da relação, a necessidade de reconstruir a vida e outras parvoíces afins, penso que seria bastante mais saudável dizer:  foda-se que alívio! O fim de uma relação é sempre uma coisa boa, sempre, como explicou o Louis CK (lá para o minuto 6):



 
 


quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Punhos ensanguentados de amor

Li que o Antony afinal é a Antony. Ou seja identifica-se com o género feminino. Atrás disto aprendi a palavra cisgender (cisgénero?) que se refere à condição de uma pessoa se identificar com o género com que nasceu. É tudo muito interessante.

Esta música chama-se fistful of love e fala de um gajo (ou gaja) que sente o amor da pessoa amada através dos seus punhos. É fodido.


Foda-se!!!!

Foooooooooooooooooooodaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa-sseeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee

terça-feira, 10 de novembro de 2015

é bonito

Gosto muito do meu país (sim essa merda existe, quantas vezes tenho que repetir isto caralho?). Este meu gosto deriva de preferências individuais - pela minha família, os meus amigos, os meus hábitos, o meu passado, a minha língua maternal - e tem pouco a ver com questões colectivas - as características do país em si - mas isso pouco importa. Lá porque as coisas são socialmente construídas e levam-nos a desenvolver um quadro abstracto-mental que seria significativamente diferente se fossemos produto de outras condições, isso não significa que não sejam importantes. Para além do que herdamos biologicamente, e a biologia determina muito pouco meus amigos, tudo o que temos é socialmente construído - ou melhor, é construído através da interacção entre o indivíduo e o colectivo;  o facto de tudo ser socialmente construído significa que todas as instituições (formais e informais, generalistas e individuais) são relativas ao contexto que as produz, mas daí não resulta que sejam irrelevantes. A democracia, os direitos humanos, a igualdade perante e lei, etc, são tudo instituições relativas, recentes, aplicadas apenas num número limitado de contextos e mesmo nesses contextos aplicadas de forma desigual. Mas não é obviamente irrelevante que elas sejam aplicadas ou não - se acham que sim sugiro que venham aqui ter comigo para que vos acorrente na cave e vos espanque diariamente até que se esvaiam em sangue e pouco antes de morrerem perguntar-vos-ei se continuam a achar que o direito de todos à dignidade humana independemente da sua condição social é irrelevante (ainda que seja, repito, relativo, pois na história da humanidade foram mais os momentos e contextos em que este direito foi aplicado de forma restritiva).

Tudo isto para dizer que a imagem em cima quase me faz chorar. Faz-me lembrar o meu país, que apesar de espectacular é também sujo, ignorante e atrasado. Portugal é uma merda mas também é muito bom, tal como qualquer outro país. Portugal não significa nada, pois poderíamos muito bem ser todos Espanhós, ou Italianos, ou Franceses, ou Ingleses, ou Alemães, se a história tivesse tomado um rumo apenas ligeiramente diferente. Mas como não o somos, somos Portugueses, e isso importa caralho.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Uma pausa para coisas óbvias

Têm razão os direitóides que dizem que a esquerda nunca se entendeu no passado. A esquerda tem tendência para a fragmentação e nas últimas décadas viciou-se em vitórias morais. Logo este acordo é de facto uma surpresa e não garante estabilidade para os próximos 4 anos.

O que os direitóides não entendem é que se a direita não tivesse sido tão filha-da-puta este acordo nunca teria acontecido. A PAF conseguiu unir a esquerda, um feito difícil de conceber até há pouco. Muito obrigado.

Agora vão-se foder.

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Puto!


O meu fascínio por este video não tem nada a ver com nostalgias meus cagalhões: este foi o melhor periodo da vida deste nosso belo país, por motivos que dentro em breve explorarei com um ensaio de 900 páginas.

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Filhos-da-puta

Aqui há uns anos uma pessoa que conheço proximamente mas cuja relação filial para comigo não vou revelar de forma a evitar que possa se identificado (o meu pai), foi chamado a tribunal a depor num caso em que um colega chamou a outro filho-da-puta. O argumento do advogado de defesa era que chamar filho da puta não era ofensivo, pois referia-se a uma puta abstracta, enquanto que se o agressor tivesse dito filho de uma puta, aí sim seria ofensivo, pois estaria a referir-se à puta concreta que pariu o agredido. O meu pai respondeu qualquer coisa do género: não sei se o 'da' ou 'de uma' é mais ofensivo, só sei que na minha casa não nos tratamos assim e se o fizéssemos isso seria má onda (o meu pai não disse obviamente má onda). Ora porque razão se referiu o meu pai ao ambiente da sua casa como sendo o contexto mais importante nesta argumentação, em vez de se ter referido a qualquer outro contexto em que a ausência de crispação é importante para a normal concretização de uma série de actividades essenciais à vida? Porque naturalmente o ambiente familiar é visto como aquele onde o ser humano se forma e como tal aquele onde é mais importante adoptar comportamentos conducivos ao desenvolvimento de um respeito salutar pelas normas de comportamento em sociedade. Além disso, neste mundo cruel e frustrante em que vivemos, em que tantas pessoas no facebook estão permanentemente indignadas com outras pessoas que estão constamente a falar mal delas pelas costas e a apunhalá-las e a desejar vê-las cair, apenas para no fim perceberem que afinal quem diz é quem é, cara de cú, pés de chulé, dizia eu que neste mundo, o ambiente familiar deverá correctamente ser visto como uma redoma dentro da qual podemos ser nós próprios e desenvolver as nossas potencialidades enquanto seres humanos. Isto se o vosso parceiro não for um filho de uma grandesíssima puta, mais preocupado em constrangir-vos do que em apoiá-los, ou se a pré-mencionada puta não estiver constantemente a interferir nas vossas vidas e a foder-vos a relação, ou se um (ou ambos) dos progenitores não for um alcoólico que acha por bem desancar quem a ele está preso emocionalmente, ou se, pior ainda, não houver filhos da puta de pedófilos na família, que usam a tal dependência emocional para manter os abusados em silêncio, ou se não viverem num ambiente social em que vê por bem que um dos parceiros tenha que se subjugar à vontade do outro, independemente de o tal outro ter ou não razão. A família será portanto a tal redoma se estas condições não se materializarem. Coisa simples.

Mas agora analisemos isto do ponto de vista Marxista, que será obrigatoriamente o ponto de vista que todos teremos que adoptar quando tomar posse o governo revolucionário do António Costa: será a família verdadeiramente a célula social na qual se formam os indivíduos ou serão as suas dinâmicas internas produto das relações sociais de produção que dominam esta sociedade malvada a que chamamos Capitalismo? Significa isto que o meu pai é um capitalista, um traidor da classe operária? Terei eu sido privado de futuro histórico como resultado da traição óbvia do meu pai, que colocou a família no centro da sua argumentação, quando deveria claramente ter optado por uma análise classista do problema? Por que não questionar se a opção pela prostituição atribuída à mãe do ofendido seria na verdade o resultado da sua condição proletária, que a obrigou a levar ao extremo a ideia de vender o seu corpo no mercado de trabalho, que comos todos sabemos é o único recurso disponível para os que não detêem os meios de produção? Seria como tal o agressor um burguês miserável, regozijando-se com a opressão por ele produzida?

Tudo isto para vos dizer que o Cavaco é um palhaço.

Como pessoas de bem que sois já tereis certamente ouvido isto, mas aqui fica outra vez:



terça-feira, 27 de outubro de 2015

Há pessoas que não sabem falar, caralho!

A política seguida é uma que está de acordo com estratégias que mobilizam sinergias em conjunto com instituições a vários níveis que juntos levam a estratégias concertadas de desenvolvimento de capacidades, de forma adequada e direccionada...

É mais ou menos esta merda que estou a ouvir, só que em Inglês, falado por um gajo com um sotaque fodido.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

A espuma do tempo

Não vi o Cavaco a espumar da boca, raivoso, ofendido, mas deve ter sido uma coisa bonita.

Entretanto hoje o Miguel Relvas achou por bem escrever um artigo de opinião no Público. O Relvas, potencialmente o maior filho-da-puta alguma vez cuspido pelas máquinas partidárias, tão mau que apesar de ter mais poder que o Passos Coelho jamais teria o desplante de tentar ser PM, pois sabe perfeitamente que mesmo em Portugal isso seria ir para além dos limites da decência.

Alguém me explica como é que posso dar uma carga de pancada a esta gente?

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

a ver quem manda nesta merda toda

Acho bem que os pais eduquem mal os filhos, que os ponham gordos, mimados, incapazes de tomar uma decisão e de lidar com as merdas da vida. Assim quando eu for velho escravizo-os a todos e não tenho que me preocupar com reformas e o caralho, pois terei montes de filhos-da-puta submissos e insuportáveis a dar-me de comer e a lavar-me os tomates em troco de meia dúzia de tostões e uns abraços que substituam os muitos carinhos que receberam dos pais ao longo da vida.

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Sempre

Estamos todos fundamentalmente errados se pensamos que valemos a ponta de um corno que seja de um pintelho de um átomo neste universo. Somos poeira que temporariamente se agregou em torno de um monte de ossos de forma a sustentar um cérebro com uma característica imensa e extraordinária, a  consciência. Quando morrermos ninguém se vai lembrar de nós e mesmo que se lembrem que importa essa merda pequeno-burguesa de querer ser lembrado, minhas lambisgóias escavacadas mal-cheirosas? Se voltaremos um dia a ser poeira, que os cães vão pisar e em cima da qual as pessoas vão mijar e cagar, que importa se a nossa foto ocasionalmente aparece nos jornais? Darão os nossos grãos de areia saltinhos de contentes ao aperceber-se que o corpo que previamente compunham continua a ser referido nos jornais e revistas científicas? Claro que não caralho. O mundo artístico e científico está cheio de misticismos de merda, como a ideia de que ser lembrado é atingir a imortalidade. Ai é minhas putas? Será o Einstein imortal ou apenas uma pessoa que tal como as outras morreu e agora já não está cá? O Einstein pode beber, foder, comer, embebedar-se, deitar-se à sombra a dormir a sesta num dia de calor? Não pode, e de pouco lhe serve que seja lembrado, pois a vida, merdosa que é, vale é por estas coisas.

É por isso que encorajo todos a trabalhar menos, a passar mais tempo com a família, a ver os amigos com mais frequência, a beber e comer coisas boas, a ir à praia ou à montanha ou ao rio ou onde quer que seja que vos faça felizes, a ler livros, ou jogar à bola, a correr, a ir a exposições de pintura contemporânea ou ao cinema e a viver onde vos sintam bem. Eu passei os últimos anos da minha vida a buscar o fantasma da realização profissional e digo-vos que não vale a pena. Estou triste, cansado, tenho saudades dos meus pais, do meu irmão e sobrinhos, dos meus amigos com quem cresci e do meu país (sim essa merda existe), tenho saudades do sol, da cerveja e da comida e que tenho para mostrar em troca de ter deixado tudo isto para trás? Algumas merdas, mas que de nada valem na verdade, pois falta muito do que é essencial.

Voltem para casa, abracem as pessoas que vos amam e sejam felizes. Eu estou a trabalhar para conseguir-lo e deixar para trás todas estas ambições vazias a que me dediquei nos últimos 10 anos. Quando uso o verbo trabalhar é com intenção: há que esforçar-se para reconverter a vida e lembrarmo-nos do que é essencial.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

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Demasiadas, vírgulas, dificultam, a, leitura, e, impõem, um, ritmo, ao, leitor, em, vez, de, o, deixar, escolher. É infelizmente um dos piores hábitos de alguns indivíduos que escrevem em Português, embora também se cometa o mesmo disparate noutras línguas. Já em inglês é espectacular, pois recorre-se muito menos à virgula.

Outro hábito estúpido é o de entupir as frases com palavras desnecessárias, cuja única intenção é legitimar o escritor usando uma lógica semelhante à do artista de circo que faz malabarismo com 10 bolas. Com a diferença de que no caso do malabarismo o objectivo é exactamente impressionar o espectador com a espectacularidade do acto, enquanto que com a escrita seria normalmente mais proveitoso a malta focar-se na mensagem e menos em serem uns caralhos de merda. No futebol isto é moda hoje em dia: já não se ataca, a equipa entra num movimento ofensivo; já não se passa a bola, os jogadores impelem o esférico num movimento linear; já não se mergulha, os jogadores deslocam o centro de gravidade na direcção do solo. Mas pronto, sem parvoíce o futebol seria mais aborrecido. Já noutros temas é uma bardajonice fazer o mesmo. Aqui há uns anos aquele gajo que faz crítica de televisão no Público tinha a mania de escrever 'a maioria sociológica'. Que caralho é essa merda? Como se distingue da maioria antropológica? Ou da maioria físico-química? E que tal referir-se à maioria minha besta do caralho?

Já agora, onde é que esta parva vai buscar esta disposição solarenga?

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Raiva iluminada


Os pretos Americanos são as melhores pessoas do mundo. Vão ler as (semi)auto-biografias do MLK e do Malcolm X e verão como aquela raiva contida, focada, letrada, inteligente é um produto único na história da humanidade, quando um grupo de gente que tinha sido empurrada para baixo umas boas centenas de anos usou o cérebro e a palavra para assustar os filhos-da-puta que os queriam continuar a explorar. As manifestações armadas desta raiva como a dos Black Panthers, ainda que mais materialistas, eram ainda assim reacções intelectuais: o canudo da espingarda projectava uma ideia, a de auto-defesa contra instituições racistas e por isso a luta nunca levou à guerra civil ou à violência aleatória, excepto em períodos excepcionais de motim.

A explicação para esta bestialidade foi-me dada pelo Winton Marsalis. Aqui há uns anos, numa entrevista no Daily Show, o Jon Stewart perguntou-lhe porque razão já não havia mestres no Jazz. O Winton disse-lhe: as coisas antes eram mais extremas e geravam reacções extremas, neste caso a entrega total à música e à experimentação. Era desse ambiente extremo que vinham o Coltrane e o Miles Davis e, fora do Jazz, o Gil Scott-Heron. Só num país que combinava a humilhação em massa de tanta gente e ao mesmo tempo recursos extraordinários, económicos e culturais, poderia produzir gente tão excepcional. Para todos os que apelam à calma, contenção e seriedade dos portugueses, sabei que só quando apelarmos à fúria, descontrolo e ingenuidade dos portugueses conseguiremos algo de verdadeiramente extraordinário.

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Foda-se

Já alguma vez leram este texto do DFW? Daqui a pouco já aqui venho dizer o que penso.

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Os gregos

Há tanto para dizer sobre o que se passou neste fim-de-semana passado, só que estou cansado... O que eu penso continua a ser dito muito melhor do que eu poderia dizer no blog do Krugman, nos artigos de opinião do Social Europe, no abrupto, ou até no The Guardian. Que s'a foda o resto. Aos Gregos pouco resta para além de esperar que finalmente lhes permitam a misericórdia de sair do Euro. Não sei que caralho pensam as pessoas que mandam, não sei quanto tempo mais pensam que isto pode continuar, ou que jogo estão a considerar. Bardamerda para todos eles.

A política não serve para representar a vontade do povo porque a vontade do povo não existe. Existe um aglomerado de desejos, medos, fúrias, vontades, tendências e teimosias que todas juntas constituem also a que pode chamar de opinião pública, mas apenas se no momento seguinte negarmos imediatamente que isso existe. Apenas têm força anímica os objectos animais como os indivíduos e não os objectos abstractos como o povo, a nação ou os cidadãos. Ainda que aquilo que se passa na cabeça de cada indivíduo dependa da sua interacção com a sociedade, a vontade nunca existirá fora dessas mesmas cabeças e é como tal absolutamente individual.

Tudo isto para dizer que não podendo representar algo abstracto como a vontade do povo, a política poderá ainda assim preocupar-se em construir instituições, organizações, incentivos e outras merdas afins que procurem, dentro do possível, fazer com que a vida das pessoas seja menos merdosa e até se possível agradável a espaços. Esta merda que nos estão a fazer não tem nada a ver com isto. Enganem-se os que pensam que isto são os alemães contra os gregos, ou os nórdicos contra os do sul. Isto é uma puta de uma guerra de uns poucos contra uns muitos. Eu sei que isto parece muito marxista, muito estrutural, muito materialista e muitas outras coisas sobre as quais até fica mal pensar. Mas é mesmo assim meus amigos. O apoio popular que em parte sustenta estes filhos-da-puta radicais de direita que mandam em todos nós, assenta no príncípio muito inteligentemente inculcado nas pessoas de que não faz mal nenhum desprezar os que têm menos, porque isso a mim não me afecta, eu que sou tão especial e tão de classe média. É até um dia, meus caros amigos, quando chegar a nossa vez.


quinta-feira, 9 de julho de 2015

Outros futuros

"I have tried to remain alert to the fact that the people, events and forces described in this book carried in them the seeds of other, perhaps less terrible, futures."

terça-feira, 7 de julho de 2015

Nadinha

Eu não percebo nada de futebol, embora seja claro para mim que apesar disso percebo mais de futebol do que muita gente que diz adorar futebol, tudo devido ao facto de que quando eu vejo futebol estou de facto a tentar apreciar a coisa, em vez de buscar provas irrefutáveis que corroborem a minha teoria da conspiração sobre o facto de que a liga está comprada e toda a gente o sabe e quem nega é porque faz parte do esquema.

É também claro para mim que gosto de futebol porque vivo no Reino Unido, país onde o futebol é discutido de forma diferente e mais interessante. Uma das coisas mais lindas deste mundo é o rumour mill do The Guardian of Manchester (este nome é mesmo só para os entendidos ;) ). Ora vejam lá esta pérola, tirada daqui:

"The Mill has never paid much attention to Ángel Di María’s tattoos and nor, presumably has Louis van Gaal. And that might just be where we’re both going wrong. Because suspicions have been aroused this morning that there is more to the Argentinian’s inkwork than meets the eye, which is just as well because all that meets the eye is a collection of stars, numbers and smudges that look awfully like nearly everyone else’s tattoos. But here’s the thing: when Di María is placed under a special infra-red light, his body art actually contains coded clues to the location of an unimaginably vast treasure stash that hunters have been seeking for centuries.

That, at any rate, is what the Mill has deduced from reports that Bayern Munich have grown so desperate to get their clutches on Di María that, in return, they are willing to offer Manchester United a large sum of cash, Arjen Robben and Thomas Müller! And some reports go so far as to claim that the German club may even throw Bastian Schweinsteiger into the deal, too! Heck, if United stand their ground they may even be able to get Bayern to add Manuel Neuer, Pep Guardiola, a fleet of BMWs and the Hofbräuhaus."

PS. De vez em quando leio coisas que escrevi mais atrás e vejo que dou muitos erros ortográficos. Peço imensa desculpa pelo sucedido. Em parte é porque a puta da tecnologia do auto-correct assume que estou a escrever em Inglês e de vez em quando muda-me as palavras automaticamente. Se alguém souber como posso desligar isto agradeço que me informem. Em outra parte é porque estou a escrever à pressa porque tenho que voltar ao trabalho minhas bestas, logo parem de se queixar caralho. Seja como for peço imensa desculpa pelo sucedido, que jamais seria tolerado por pessoas excepcionais como o Pedro Mexia ou o Pacheco Pereira, duas pessoas de direita com as quais no momento actual me identifico, embora não ideologicamente, que isso fique bem claro.

PS2. Não comentei sobre o belo acontecimento político do passado Domingo porque o que tinha a dizer já o disse nas últimas semanas. O mais importante sobre tudo isto escrevi bem antes, aqui, e volto a reproduzi-lo: a contribuição mais importante que o Syriza nos poderá dar dependerá de resultados que só se verão daqui a uns anos. Todos os totós que tentam medir o sucesso ou o fracasso deste processo com base em coisas que se passam em meia dúzia de horas estão enganados e deveriam dar um tiro na cabeça o mais rápido possível, se faz favor e obrigado.


JPP

Não sei nem quero saber porque razão o JPP decidiu ser o que tem sido nos últimos anos, mas tem tido a opinião publicada mais importante em Portugal desde o início deste marasmo. Digo isto sem ironia, a doença do pós-modernismo segundo o DFW, que jamais me passaria pela cabeça utilizar, como obviamente saberão. Entre a esquerda que finge que bastava dar porrada nos banqueiros para resolver a crise, a esquerda frouxita do PS que apresenta como alternativa a austeridade sim senhor, mas com incentivos ao investimento (estúpidos do caralho, pensam que somos parvos?) e a direita filha-da-puta que nos tem governando, JPP foi dos poucos que criticou desde o início as opções da maioria, que sempre evitou entrar pelos debates tecnocráticos irrelevantes e que sempre colocou tudo isto no plano politico, que é onde tinha que estar: o governo foi muito forte com os mais fracos e muito fraco com os mais fortes. Está tudo dito aqui, só que isto é uma frasesinha sem respeitinho, ainda por cima em Português, caralho, não conseguiu o JPP pôr ali no meio a palavra networking ou global (atenção, não é global em Português, é global em Inglês), ou leverage! É mesmo old fashioned  este JPP (já agora, só as pessoas old fashioned é que usam a expressão old school). Agora publicou ali no Abrupto um vídeo (que não vi) e um texto (que li) sobre a situação na Grécia e está lá tudo. Ainda por cima um texto com referências históricas, my god, que coisa mais out of this world.

Dá-lhes Pacheco!

sexta-feira, 3 de julho de 2015

MLK

 
Martin Luther King, a discursar no dia antes de ser assassinado. Vale a pena ler isto, para perceberem que nunca pisou esta terra uma pessoa melhor do que esta.
 
 
 

Conas e caralhos

Estou a tentar construir uma carreira trabalhando no máximo umas 4 horas por dia e passando o resto do tempo a laurear a pevide pela internet. Até agora está a correr bem, o que não surpreende, pois tirando meia dúzia de pessoas que trabalham a produzir comida, a construir casas, ou a curar pessoas, tudo o resto que se faz neste mundo é absolutamente desnecessário. Se eu trabalhasse as 8 horas que é suposto trabalhar diariamente o único resultado seria produzir mais merdas sem interesse que ninguém vai ler. Se trabalhasse 12 horas por dia o resultado seria ainda mais acentuado, com o agravamente de que eu estaria sempre cansado e não teria tempo para as poucas merdas que valem a pena. Merda, caralho, puta, foda-se, que o dia de hoje está a ser uma merda e ainda agora começou, embora obviamente o facto de ainda há pouco ter começado não significa que continue a piorar. Poderá obviamente melhorar e pode até acontecer quer termine com um orgasmo glorioso, digno de louvas ao senhor e peregrinações a Fátima. Mas também pode ser que não...

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Banda sonora ex ante


Fúria do sul

Que venham o Tsipras e o Varoufakis, de espada desembainhada, num cavalo branco, rodeados de gregos e gregas baixinhos, de pernas tortas e bigode, por aí acima, em direcção ao norte, a correr tudo a toque de porrada e decapitação. Quando passarem por Berlim e Bruxelas, e arrasarem com aquela merda toda, espero que se ponham num avião da Easyjet e venham dar um par de estalos e pontapés na cona ao Passos Coelho e ao Cavaco, não se esquecendo de atirar umas bombas de mau cheiro para o Palácio do Rajoy em Madrid. É uma vergonha do caralho que haja quem continue a insistir que a Grécia tem que comer e calar uma política falhada, que tornou a dívida mais insustentável do que antes, que aumentou o desemprego, o cinismo e o desespero, sem ajudar a resolver nenhum dos verdadeiros problemas da Grécia, que têm a ver com o sistema politico e a governabilidade. Tudo isto para não ofender meia dúzia de egos, que ficariam muito magoados se tivessem que assumir publicamente que toda a sua seriedade, as suas testas franzidas e os óculos postos na ponta do nariz, para realçar a condescendência com que olham para o mundo, não valem um pintelho.

Todos os doutores da desinformação que celebraram a capitulação do Syriza há uns meses atrás, que vejam agora como eram e são uns filhos-da-puta. Estavam todos felizes a celebrar a humilhação dos gregos e nem perceberam que pela primeira vez desde que começou a crise, estavam a lidar com gente honesta no governo da Grécia.

Isto ainda está apenas a começar meus amigos. Agora é que vem o aperto a sério. Não estou a falar do aperto na Grécia, que é inevitável. Estou a falar do aperto a Portugal. É que quando a Grécia cair a Alemanha vai exigir medidas que blindem o Euro, como gostam de dizer os tecnocratas, que até poderão incluir passos positivos que estimulem o crescimento. O governo Português vai dizer que as migalhitas alemãs são prova de que o 'nosso esforço' está a ser recompensado, escondendo que com essas migalhitas virá uma mensagem muito clara: comportem-se meus cabrões, que não vamos admitir que outro país de merda e insignificante venha por em causa a estabilidade do nosso projecto. Quanto tempo durará este arranjo? Quanto tempo até que um país com gente menos disposta ao compromisso como o nosso comece a fazer merda e arrebente de vez com tudo isto?

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Recensão


Este livro é muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito , muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito,muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito bom.

Ah ah ah

Esta merda está um bocadinho mal executada, em parte por amadorismo e em parte porque os Gato Fedorento sempre se empenharam em demonstrar empiricamente as contradições inerentes ao modelo comunista, aquele segundo o qual cada um deveria contribuir de acordo com as suas possibilidades, e receber de acordo com as suas necessidades, ignorando as diferenças óbvias entre cada indivíduo no que diz respeito à sua capacidade de contribuir e à sua resposta quando posto perante uma situação em que recebe independentemente do seu esforço. É óbvio para todo e qualquer observador parcial e injusto que o RAP deveria ter assumido desde o início a função de apresentador/moderador ou outra merda qualquer, com os outros três a serem chamados (talvez) para contribuições ocasionais (o ex-gorducho deveria ter repetido aquele personagem do forcado). Além disso deveriam ter contratado um batalhão de escritores, como fazem os Americanos quanto têm uma série, para lhes dar apoio e permitir-lhes trabalhar de acordo com o modelo, inventado por mim neste momento preciso, segundo o qual é preciso escrever pelo menos 10 piadas para encontrar uma que valha a pena. Como estes quatro animais sempre insistiram em tratar-se como iguais, o que resulta naquelas conversas parvas e desnecessárias entre sketches, e nunca criaram uma equipa de apoio, aquilo saía-lhes dependendo dos dias, às vezes melhor, outras vezes pior, mas sempre com uma certa falta de profissionalismo, se é que me é permitido tal comentário e claro sem querer ofender estas excelentes e soberbas pessoas.

Seja como for, a premissa desta coisa aqui em baixo é excelente. Eu, como ser humano sensível e profundamente entrosado com as minhas emoções, não consigo resistir à Mariza a cantar aquele refrão, em todo o seu esplendor fascista. Não consigo também resistir à ideia de me sentir orgulhoso por ela, como se o facto de ambos podermos renovar o passaporte no mesmo sítio significasse que mereço partilhar do seu sucesso. Como entendo que todos estes sentimentos são estúpidos, faz todo o sentido que os GF gozem comigo, especialmente e particularmente comigo, ao mostrarem-me que os poderes que eu atribuo à Mariza são estapafúrdios.


quarta-feira, 17 de junho de 2015

Quem não

E quem não defende a saída imediata da Grécia do Euro e a declaração de bancarrota para que o governo grego possa começar um processo difícil, incerto e assustador de reconstrução da economia e política nacionais, mas ainda asssim preferível ao estado corrente de humilhação que lhe está a ser exigido, não é da malta!

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Uma questão

Como lidam as pessoas com o contraste entre as suas ambições pessoais, sejam elas financeiras, artísticas, políticas, estéticas ou outra merda qualquer, e a realidade? É uma pergunta a sério, que me assusta para caralho neste momento.

Como parte desta pergunta, acrescento uma adenda: que fazer quando este contraste é exacerbado pela falta de correspondência entre as nossas ambições e as ambições da pessoa com quem escolhemos partilhar a nossa vida?

A funcionalidade do ser

1. Uma coisa que me intriga, deveras, é que as pessoas tenham um penteado. Eu entendo a razão para tal ocorrência - faz totalmente sentido que como parte da expressão simbólica da nossa identidade, actividade na qual participam as roupas que vestimos, as conversas que temos, os rabos que admiramos e os livros que fingimos ler no autocarro, tenhamos também um penteado, que comunica ao mundo a forma como nós entendemos o posicionamento do nosso cabelo no contexto de uma sociedade globalizada e informacional. O que eu não consigo contemplar é como as pessoas conseguem introduzir na sua rotina diária o cuidado com o cabelo. Especialmente onde vivo, no Reino Unido, diria que 90% ou 95% dos homens têm um penteado que modelam diariamente e sem o qual não saem de casa. Os tipos podem estar na rua de pijama, com umas sandálias rotas e mal-cheirosas e cara de ressaca mas o cabelo estará disposto de acordo com princípios rígidos, que claramente se mantêm inalterados dia após dia até que o indivíduo decida que é altura de encontrar um penteado novo. É uma questão de princípio, imagino, que no meu caso é substituída pelo meu princípio de tomar um duche todos os dias, o que segundo oiço dizer não é tão obrigatório entre os britânicos. Só que se eu conseguisse incorporar no meu quadro abstracto-mental a desnecessidade dos banhos diários não me imagino a substituí-los por uma sessão de gel e pente em frente ao espelho, o que me demonstra uma vez mais que eu sou um homem de uma era diferente, posto no presente com o objectivo claro de me obrigar a viver desconfortável e com um sentimento recursivo de desajustamento para com a realidade.

2. Se pudesse escolher uma outra vida estas seriam as minhas opções, por ordem de preferência:

2.1 Ser o James Franco ou o Pedro Mexia - embora continuasse no presente, periodo histórico com o qual me identifico devido ao facto de aqui residir, teria acesso a uma outra existência. No caso do PM, como já disse antes, teria a possibilidade de encontrar aquele apego pela melancolia e solidão que acho que me traria um sentimento de realização pessoal, ainda que fosse mais infeliz. Já quanto ao JF, trata-se do caminho oposto: o hedonismo e desprendimento só possíveis a quem tem muito dinheiro e uma carreira bem sucedida, que ainda assim lhe deixa tempo para procurar outras formas de expressão artística. Ainda que a maior parte do que ele faz seja pouco interessante, isso não interessa.

2.2 Ser uma personagem influente mas trágica num momento revolucionário do passado. Por exemplo um Danton na revolução Francesa, um Trotsky na revolução Russa ou um Che Guevara. Tenho poucas simpatias pelas ideias ou práticas dos ditos cujos, mas não nego que existe dentro de mim um desejo patético e pouco sério de acumular poder muito rapidamente, usá-lo de forma excessiva e caótica, e morrer rapidamente, permitindo a minha projecção futura como mártir ou assassino, dependendo de quem observa.

2.3 Viver num mosteiro isolado do mundo. Mas teria que ser mesmo isolado, para que ninguém viesse regularmente perguntar-me se acredito em Deus, o que me obrigaria a mentir, pois obviamente quereria manter o meu ateísmo rígido. Passaria o dia a coser pão, a fazer cerveja artesanal e a ler (talvez também a escrever, se encontrasse razão para tal) e ocasionalmente punha-me de joelhos na igreja para dormir a sesta. Convinha também que este convento fosse muito aberto em determinadas questões morais, para que pudesse haver rambóia com fartura.

Acho que é isto.

terça-feira, 9 de junho de 2015

tutti frutti

Estou outra vez, caros amigos, fechado numa sala a ouvir gente aborrecida a falar. Como estamos em Itália há uma série de gente importante, que chega atrasada, fala 5 minutos em platitudes e clichés, e depois sai. Merda para todos eles. Agora começam as apresentações a sério.

Entretanto, também por virtude do contexto nacional, tenho a um metro de mim, às 10:00 horas, uma italiana feia mas mamalhuda e empertigada, cuja única função, parece-me, é estar de pé a rearranjar o cabelo, a olhar para nós e a passear-se no palco entre apresentações para termos algo em que repousar os olhos enquanto respiramos fundo pedindo ao nosso senhor que nos dê força para aguentar o resto do dia.

sexta-feira, 5 de junho de 2015

Tsipras, manda-os levar na peida!

Caralho, que se acabe já aqui esta merda: espero que a Grécia anuncie a saída do Euro já este fim-de-semana e tudo o resto que se foda. A Troika, a Merkel e o palhaço do Ministro das Finanças alemão, após terem inicialmente ficado muito ofendidos porque os gregos tiveram o desplante de votar em quem lhes apeteceu, deviam ter acalmado as pássaras e agradecido aos representantes do Syriza, pois pela primeira vez desde a crise estavam a lidar com gente honesta. Em vez disso preferiram entrar neste jogo de meninos maus, a ver quem desiste primeiro, insistindo que qualquer cedência aos desejos do Tsipras e do Varoufakis de devolver um pouco de dignidade aos gregos não podiam ser aceites. Poder-se-ia pensar que isso se deve à impossibilidade de mudança de rumo, como se este rumo fosse uma questão material, físíca. Só que isso é mentira. A Grécia vai provavelmente sair do Euro porque quem manda não queria nunca ter que admitir perante os gregos, esses tipos baixinhos, sujos, de bigode e ainda por cima viris, que andam a deixar as alemãs com a patareca endiabrada, que se calhar eles têm razão. A UE poderá desfazer-se apenas para satisfazer o ego de meia dúzia de filhos-da-puta.

O que estes palhaços não percebem é que os gregos não vão sofrer tanto como eles pensam. Quanto mais fundo é que eles podem bater? Até poderá haver um colapso imediato, mas dentro de pouco tempo, muito mais rapidamente do que Portugal ou a Espanha, eles vão começar a crescer outra vez. Já a UE poderá isso sim ficar toda arrebentadita. A arrogância destes filhos-da-puta é óbvia e quando começar a lavagem de roupa suja que se vai seguir a este espectáculo será ainda mais. Logo os britânicos, que agora até estão a começar a ponderar ficar an UE, poderão rapidamente ir na outra direcção. A população Francesa, cujos 'pensadores' continuamente lamentam a irrelevância e decadência do seu país, poderá começar a puxar na mesma direcção. Ficarão os nórdicos, que não precisam de nós, os de Leste, que terão sempre a mãe Rússia com os braços abertos pronta para acolher os filhos pródigos e uma aliança entre Alemanha, Portugal, Espanha e Itália. Só que os Alemães não nos respeitam e pergunto-me quanto mais tempo aguentarão os nossos politicos medíocres esta relação de merda.

Sim, eu sei que tudo isto é geopolítica fraquinha, mal informada e mal preparada. O que verdadeiramente importa é que quem manda poderia ter resolvido tudo isto de outra maneira. Não o fazem porque não querem e ainda se poderão foder à grande.


quarta-feira, 3 de junho de 2015

Não podemos

Perguntam-se os cidadãos portugueses recorrentemente se poderá haver um Podemos em Portugal. Poder pode, mas haver não haverá (pelo menos para já). Os partidos e independentes que surgiram nos últimos anos, e penso essencialmente no Livre, no Tempo de Avançar e no Sampaio da Nóvoa, não têm gente com desejo, ou estaleca, ou talento, ou carisma, ou o je ne sais quois de pas de faire foutre, para fazer o que o Podemos ou o Syriza fizeram nos respectivos países onde existem: ir ao povo e fazer as pessoas acreditar que podem acabar com o enrabamento colectivo a que nos submeteram nos últimos anos. Enquanto o Podemos fala de acabar com as castas e com a corrupção e o Syriza prometeu devolver a dignidade aos Gregos (não sei como os filhos-da-puta que gerem a Troika e instituições afim podem continuar a exigir mais miséria e humilhação para os gregos como se nada fosse) em Portugal fala-se de referendar os tratados europeus:

http://www.publico.pt/politica/noticia/livretempo-de-avancar-quer-referendar-tratados-da-ue-e-regionalizar-com-eleicao-directa-1697501

e promete-se que não se fará da omissão um estilo:

http://www.publico.pt/politica/noticia/sampaio-da-novoa-promete-que-nao-fara-da-omissao-um-estilo-da-ausencia-um-metodo-do-silencio-um-resguardo-1696864

caralhos ma fodam se esta gente não está tão desligada da vida dos portugueses como o Passos Coelho. Estes totós, com o seu esquerdismo egocêntrico e académico (gostaria de resgatar a palavra intelectual para coisas positivas, embora saiba que isso é uma batalha perdida, logo vou tentar evitar usá-la), estão-se pouco cagando para os portugueses, porque se não fosse esse o caso já se tinham posto a palmilhar o país para falar com desempregados, com pais cujos filhos tiveram que emigrar, com famílias que perderam a casa, com os milhares que vivem com salários de merda ou sub-empregados, a criar um verdadeiro movimento, que correspondesse às necessidades deste país maravilhoso mas tão mal tratado, com políticos muito piores do que aqueles que merece, para devolver um pouco de amor-próprio às suas gentes. Daqui não nascerá nenhum Podemos nem nenhum Syriza e ficamos pior por isso.

terça-feira, 2 de junho de 2015

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Calma, esta merda aqui em cima foi escrita pela minha filha de ano e meio, não é nenhum código secreto dos illuminati. Apesar de se notar alguma imaturidade na forma e um recurso excessivo à aliteração, pode-se dizer que o talento é óbvio.

sábado, 23 de maio de 2015

terça-feira, 19 de maio de 2015

O Osório

Volto à entrevista de há uns posts atrás, para dizer variadas coisas:

1. O Luis Osório gosta de pensar que é poeta, mas aquela merda sai-lhe mal e forçada. Isto afecta-me porque tive aqui há uns anos uma relação homossexual não consumada com o Luis. Assim como o James Franco, eu também sou gay até ao momento da penetração. Vissem-me vocês na minha vida privada, e encontrar-me-iam frequentemente aos melos com um tipo barbudo, com as unhas cravadas na sua nalga e a outra mão afagando furiosamente o seu peito peludo, para que depois, quando o ponho de gatas e agarro no meu mastodonte erecto pronto para o penetrar, decida que afinal não, eu gosto mesmo é de gajas e acabe por ejacular numa tela, como parte da minha série de pinturas conceptuais entituladas: vim-me com querer, lol.

É verdade que a minha relação homosexual não consumada com o Luís foi influenciada negativamente pelo facto de nunca o ter conhecido, nem sequer o ter visto em pessoa. Mesmo assim, houve um período da minha vida em que, ainda imberbe, na busca por uma identidade, me senti identificado com o Osório. Aquela mania de injectar um sentido metafísico em coisas mundanas dava-lhe um ar de alguém que tentava ter um pensamento próprio o que na altura me fascinava, pois infelizmente meus amigos, apesar deste nosso país ser maravilhoso e fantástico em muitos aspectos, a vida intelectual publicada e televisada continua pobrezinha. É agora claro para mim que aquela poesia obfusca mais que ilumina, pois não representa o desejo de pensar o quotidiano de forma mais interessante, mas apenas de projectar o quão interessante é o Luís Osório quando pensa o quotidiano. O problema é que ele não é assim tão interessante.

2. O Pedro Mexia é um gajo intessante, por outro lado. Há algumas pessoas que eu gostava de ser em vez de ser eu, e ele é um deles. Não que gostasse de viver no corpo dele, com as ideias dele, mas sim gostava de ser mais como ele: ler mais, ser mais desprendido para com a vida, ter aquele apego pela melancholia, ter trabalhos interessantes e escrever para os jornais. Se eu conseguisse aliar aquela vida com o meu pragmatismo financeiro, transformava o que ele tem numa máquina de fazer dinheiro, mantendo no centro a actividade intelectual e sem afectar os meus rígidos princípios esquerdistas.

O problema do Pedro Mexia é que ele é produto de um contexto histórico que não escolheu, contexto esse caracterizado pela pobreza do discurso intelectual público em Portugal, aliado a uma sociedade paternalista e conservadora (volto a dizer, que em nada afecta a espectacularidade deste nosso país). Neste contexto, os homens de bem, os 'senadores', os 'paizinhos da nação' e os patriarcas austeros são chamados a comentar sobre tudo, desde política ao futebol passando pela evolução da pornografia na era da internet. Aquela entrevista, feita pelo desinteressante Luís Osório, é produto deste contexto e ao mesmo tempo responsável pela rua reprodução. Ao Pedro Mexia é-lhe pedido que comente sobre uma série de merdas que ela obviamente não pode dominar. Embora eu reconheça os perigos de restringir todas as discussões públicas a campos de especialistas, pois o conhecimento técnico por vezes limita o debate em vez de o alargar, esta merda de perguntas sobre todas as merdas que interessam só faz sentido num contexto em que o conhecimento não é visto como uma coisa útil mas sim como um aliado do estatuto social.


quinta-feira, 14 de maio de 2015

Fantasias

Uma das minhas fantasias de homem casado é escangalhar tranca bardajona. Claro que um homem como eu jamais pularia a cerca, pois o meu sentido de missão neste planeta é total e inabalável, o que me leva a comportar-me quase sempre de acordo com principios morais rigorosos. Mas quando me imagino solteiro, ou mais frouxo moralmente, uma das minhas fantasias é engatar uma gaja meio gorducha e partir-lhe a bilha. Não estou a falar de obesas, mas sim daquele gordo das britânicas, que mesmo quando são magrinhas têm um corpo fofinho, consequência natural de só comerem merda. Ainda ontem ia a andar pela rua e vejo uma gaja de calças de licra, a vir de uma corrida ou a preparer-se para correr, com um rabiosque solto nas pontas, saltitão, deformado e uma barriga de cerveja. A gaja nem era particularmente bonita, mas aquele conjunto arregalou-me os olhos e pus-me a imaginar como seria rebolar com a tipa. Com o meu aspecto latino a gaja até poderia achar piada e aceder ao meu desejo, em troco de poder mostrar-me às amigas como um troféu de juventude. Imagino que teria a sua piada, uma queca à canzana, com aquelas carnes soltas movendo-se caoticamente em várias direcções. Claro que me sinto atraído pelas boazonas, todas direitinhas, com a pele limpa, que bebem muita água e comem saladas. Só que com essas o sentimento de transgressão é mais linear: são jeitosas logo teria prazer em enrolar-me com elas. Já com as fofinhas há um duplo sentido de aventura, que inclui a atracção pelo sexo meta-marital e por uma mulher desconchavada que não deveria ser objecto de desejo, de acordo com os parâmetros irrealistas definidos por esta sociedade sexista, imperialista e capitalista em que tão miseravelmente vivemos.  

Coisa têm-se passado

Desta vez não foram as putas das festas, mas desenvolvimentos profissionais significativos que me mantiveram ocupado. Não foi certamente a falta de ideias. Todos os dias tenho pelo menos duas coisas sobre as quais quero escrever, só que entre o trabalho, a pirralha, a falta de sexo, o alcóol, os livros e as séries televisivas, às vezes falta-me tempo. Já agora, para que não pensem que sou um filisteu agarrado à televisão (era-o sem dúvida a crescer; passava horas a ver merda na TV, merdas  que não me diziam nada, das quais não me lembro nem um poucochinho, como um carocho), tenho a informar-vos que nos últimos anos (digamos 5 anos, + ou -) só vi a sério duas series de televisão: The Wire e Breaking Bad, só que vi ambas pelo menos 4 vezes desde o princípio ao fim, mais as vezes em que ponho trechos no youtube só para dar uma olhada. Ou seja, vi todos os episódios, das 5 temporadas, umas quatro vezes. Todas os outros eventos televisivos vejo de forma fragmentada e pouco séria e meus amigos, não há nada mais desagradável do que ver televisão de forma pouco séria.

Entretanto hoje cheguei ao bules e entrei no facebook. Saiu dali uma colheita interessante de artigos. Ora vejam lá:

Louis CK na Rússia

Trecho da Amy Schumer

Entrevista ao David Letterman num momento crucial da sua vida

Um artigo no blogue nos novos rurais


terça-feira, 28 de abril de 2015

Era mais ou menos assim

Era mais ou menos assim na semana passada. Esta foto não é minha:


Leiam esta entrevista, identifiquem as suas falhas estruturais, e reflictam sobre o que isso significa em relação ao futuro da literatura, da economia e da política portuguesas.

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Tomates secos ao sol com queijo

A merda dos almoços na merda destes países são uma merda. Só que a minha apreciação da comida e as minhas expectativas estão tão acostumadas a este ambiente que dou comigo a apreciar a merda das sandes que nos deram para almoço, regadas com um belo copito de água. Pelo menos o bolo de chocolate estava macio e bom embora o café, para não destoar, fosse um cagalhão.

Agora quero dormir a sesta mas não posso, porque a conversa vai continuar. Tudo isto porque ontem em vez de dormir pus-me a beber cerveja e a ver episódios do Better Call Saul até às 2 da manhã - logo não dormi bem, nem o suficiente, logo hoje não me apetece estar aqui, logo as centenas de euros gastos a trazer-me aqui e a alojar-me foram mal gastos. Tudo isto, já agora, é dinheiro da UE, logo pago com os vossos impostos. Ontem à noite, quando estava a comer escalopes e a beber vinho num restaurante caro pensei em vocês, meus pichas, que sustentam os meus vícios. Obrigado.

Só mais uns detalhe:

1. Ontem à noite a minha estadia no hotel custou mais de 300 euros, porque Bruxelas está cheia devido a um congresso sobre marisco (I kid you not my little bitches), que aparentemente é o maior evento do ano em Bruxelas, em termos do número de pessoas que aqui se deslocam para falar sobre o passado, presente e futuro do marisco, um assunto multi-dimensional, multi-escalar e transdisciplinar. Eu não estou em Bruxelas para participar neste congresso.

2. No caminho entre o hotel e o sítio miserável onde decorre o seminário que actualmente me acolhe, vi vários edifícios guardados por militares com metralhadora. A ver se me explico bem: um gajo vai a andar pela rua,  a apreciar o rabo saltitão das belgas e das várias expatriadas que por aqui vivem, vira a esquina, e no passeio estão dois marmanjos fardados, com uma arma gigante nas mãos, de cara sorridente e a dizer olá aos transeuntes. Outra vez, I kid you not. Tudo isto, em resultado, segundo me dizem, daquela merda que se passou no Charile Hebdo e das suas várias repercussões.

3. Fora do edifício onde estou uma parte da cidade está fechada porque um grupo de pessoas decidiu reunir-se aqui hoje para discutir de emergência a tragédia no mediterrâneo. Estes filhos-da-puta rodeiam-se de polícias e põem barreiras na rua para discutir o que fazer com os pobres diabos que querem ter uma vida decente. Não digo mais nada.

.....

O Johan devia ter falado 10 minutos, falou 25 e senti-me como se tivesse falado durante uma vida inteira. O mundo acabou e voltou a começar enquanto este filho-da-puta nos aborrecia a todos (embora finjamos todos que foi muito interessante).

- Johan, Johan, Johan, Johan!

- O que foi marques?

- Vai pró caralho meu cabrão!

Agora é a vez do Luke - tem cara de pessoa doente mas por outro lado um certo carisma, mais baseado na simpatia que na força da sua personalidade. Vamos lá ouvi-lo

U speak good?

Uma sala cheia de gente a falar em inglês, sem que essa seja a sua língua materna, gera muita conversa difícil de entender. Um gajo tem que arrancar do que eles dizem algum significado e fingir que o que entendemos foi o que eles queriam dizer.

Agora fala o Johan da Comissão Europeia, que tem o carisma de uma vassoura. Entre os ahhh, ehhh, uhhhh, aquele sotaque de merda e o meu desinteresse pelo que ele diz, está quase na altura de me atirar pela janela. O gajo agora pôs-se a falar do Don Quixote, a ver se isto anima; mas não, continua aborrecido.

Já agora, não entendo esta narrativa de que o Don Quixote era um sonhador e o Sancho Pança o pragmático cock-blocker, o que só faz sentido no contexto da dominação burguesa do pensamento, que celebra o lirismo e a contemplação nos ricos e condena os desvarios e a preguiça nos pobres. O Quixote sofria de um desequilíbrio químico geralmente designado como doença mental que o coitado do Pança tinha que aturar devido ao seu estado proletário de não ser dono de um meio de produção. Se o Pança não controlasse o outro mais tarde ou mais cedo levava nos cornos, o que se bem me lembro chegou a acontecer, provando que eu tenho razão e só não o vê quem é estúpido.

O Johan está a comparar a Dinamarca com a Espanha - no primeiro há confiança no segundo não e não há nada que possamos fazer em relação a isto. Vai pró caralho Johan!

Ui, agora o powerpoint tem um questão: Who? e a resposta: Top level politicians, porque it's about ownership e claro especialistas de qualidade elevada - ah sim Johan, és mesmo um gajo interessante, cheio de ideias radicais.

- Oh Johan!

- Sim marques?

- Vai pró caralho Johan

Sou quem sou

Sou um rebelde do caralho! Estou num seminário em Bruxelas, com vista para o mastodonte onde oficialmente trabalham os comissários europeus, quando não estão nas suas voltinhas pela Europa, e em vez de ouvir as merdas que se vão dizendo estou a escrever aqui. Por exemplo, agora posso dizer:

- a gaja que está a falar é uma badalhoca! - e ela, pobre ignorante, nem faz ideia. Se calhar pensa que estou a tirar notas do que ela disse. Coitadinha.

Entretanto um gajo da OCDE esteve a dizer-nos que as avaliações que eles fazem são blah blah blah e por isso huh huh blargh e o que leva a que ish ush esh.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

De volta com sede de vingança

A Páscoa ocupou-me, mas não me derrotou. Ainda um dia gostava de saber porque me consomem tanto estas celebrações, apesar do meu enorme e exemplarmente simbólico ateismo. Mas pronto, não sou o único a inquietar-se com a natureza destas coisas:


Entretanto fiquem a saber que a Hilary Mantel é uma escritora excelente. Tendo tomado conhecimento da sua existência através dos conselhos do sempre enorme maradona, tenho vindo devagar a ler as coisas que ela escreve. Estou agora à briga com esta coisa, um livro longo, por vezes confuso, escrito quando ela era demasiado imatura para escrever como escreve hoje, mas que demonstra pela ambição e entrega que esta gaja já era muito boa antes de ser excelente.

terça-feira, 24 de março de 2015

Para o Utah já!

Que se fodam as pessoas de bem, e os 'senadores', e os sábios, e os homens de letras, e os génios, e os poetas, e os artistas, e os meninos, e os senhores doutores, engenheiros e arquitetos, e os líderes, e os gestores, e os especialistas, e os tecnocratas, e os dirigentes de topo, e as elites, e os oráculos, e os prestigiadores, e os fazedores de opinião, e todos os filhos da puta afins, incluindo eu mesmo, viajando para trás e para a frente em tanto movimento inconsequente, num acumular de conhecimento e conhecimentos e competências e o caralho que os foda a todos. Merda!

Sou pai

Quem diz que ser pai é a melhor coisa do mundo está a exagerar ou a mentir ou então teve uma vida muito triste. Dizer que uma coisa é a melhor do mundo remete ou para um evento limitado no tempo, durante o qual experienciámos uma felicidade quase ininterrupta, ou então para uma análise retrospetiva de uma série de eventos, necessariamente sumária e filtrada pela memória que impõe ao passado o desejo de fazer as coisas parecerem melhores do que foram na verdade. Ora tanto num caso como no outro há coisas que claramente melhor se adequam a esta caracterização. Por exemplo o sexo, enquanto um desses eventos limitados no tempo, ou as várias relações sexuais que temos ao longo da vida, enquanto a tal série de eventos. Ser pai não é isto.

Ser pai é uma série de pequenas ações, esforços, atos de amor, tarefas rotineiras e tentativas de não perder a paciência, frequentemente executados num estado de cansaço que vai para lá do cansaço normal, aquele que sentia antes de ser pai quando tinha dormido pouco, ou feito desporto, ou trabalhado muito (ah!) ou estava de ressaca, mas que pelo contrário é um cansaço miudinho mas persistente, feito pior porque sabemos que não haverá uma pausa, nunca mais. A primeira sensação forte que tive depois de ser pai, após ter garantido que estava tudo bem com a mãe e que a pequena estava saudável, não foi um amor visceral, que me subiu pela espinha e me deixou num estado de êxtase, tal como o descreveram outros pais, mas sim a realização de que a partir deste momento tinha uma responsabilidade em relação à qual não há pausas. Isto é um sentimento único, que não é particularmente bonito ou romântico, mas claramente distintivo, que marcou para mim a transição de pai expetante para pai real: a partir de agora tenho que tomar conta de uma pessoa que depende de mim, que é frágil, que durante muitos anos vai ser demasiado imatura para tomar decisões importantes, e que mesmo depois de ser matura vai continuar a tomar decisões de merda, que vai precisar de mim para comer, para se limpar, para adormecer e em nenhum momento vou poder dizer: pronto, é fim-de-semana, vou descansar disto e volto na segunda. Claro, pode-se sempre deixar a miúda com alguém por umas horas ou mesmo dias, mas nunca mais será o mesmo meus amigos.

Claro que depois vem o tal amor visceral. Calculo que para a mãe seja uma coisa mais imediata e alguns pais acreditam que para eles também. Para mim foi uma coisa gradual. Tão pouco sentia vazio com a minha pequena, mas há uma coisa, um monstro, que foi crescendo dentro de mim, primeiro apenas no cérebro, depois apareceu no estômago, espalhou-se como um tumor e acabou por ocupar tudo cá dentro, que me leva a sentir um amor, um espírito protetor, um desejo de cuidar dela que não se compara a nada mais. Não é a melhor coisa do mundo é outra coisa, mais importante do que isso.

Existem também os momentos especiais, parvos, insignificantes, que para os pais significam muito, como quando ela sorri, ou balbucia qualquer coisa, ou cresce de forma significativa, só que tudo isso é pontuado e disperso. Não é preciso mentir ou exagerar sobre o que é ser pai. Calculo que algumas das coisas que se dizem sobre a paternidade são ditas porque a malta precisa de sentir que há uma razão ulterior para todo o trabalho que têm e então afirmam: é o melhor do mundo, sabendo que não é, mas pensando: se não é o melhor do mundo, para quê tanto trabalho? Tanto trabalho porque os putos nasceram e agora há que cuidar deles, e uma pessoa de jeito tem gosto em fazer bem as merdas que tem de fazer.

domingo, 22 de março de 2015

Longa, má e merdosa

No outro dia vi um indivíduo num consulado português, que renovava o cartão do cidadão. O tipo era tuga mas mal falava português e inglês tão pouco. Teria uns 40 anos, mas tinha um ar tão acabado que tanto poderia ter 25 (e estar muito estragado) ou ter 50 (e estar apenas normalmente estragado). O funcionário que nos atendia, que comigo e com as minhas acompanhantes foi simpático, tratou-o mal. Vestido, metaforicamente, com a minha peruca empoeirada, a minha camisa de lantejoulas e os meus cullots, senti-me culpado. Vi através desta curta interacção social como são as merdas. Só que era tão confortável ser bem tratado, que quando o funcionário voltou para concluir o meu processo sorri-lhe e continuei a nossa dança de gente-de-bem a viver fora do país, que claramente nada tem a ver com estes pobretanas, em vez de lhe dizer que se ele não fosse um beto de merda, que conseguiu emprego no consulado seguramente à custa do caralho de uma cunha, talvez estivesse do outro lado do balcão a necessitar de ajuda para não morrer à fome. Filhos-da-puta, ele e eu.

Que vida terá aquele gajo, o português que mal fala português? Vai na volta é mais feliz do que eu. Não me refiro à ideia da felicidade dos ignorantes, porque isso é um conceito de merda inventado pelos burgueses melancólicos, que gostam de romantizar a pobreza e a barbárie. Ser pobre é fodido, não ter capital social nem capital normal, nem competências que possam ser realçadas num currículo de forma a conseguir aquela primeira entrevista, na qual com uma mistura de charme e uma atitude empreendedora, mas ainda assim humilde, conseguimos convencer o potencial empregador a dar-nos dinheiro em troca de fingirmos todos que aquilo no qual trabalhamos vale um pintelho.  Ao olhar para este tipo imaginei que ele teria uma vida de merda, com um emprego de merda, com um patrão de merda, com uns filhos de merda que andam na rua armados em mitras e uma mulher que o despreza, por lhe dar apenas esta vida de merda. Mas se calhar enganei-me, se calhar o gajo tem dinheiro e na comunidade dele é o rei. Ainda assim apenas o consigo visualizar como o rei da merda, tipo um proprietário de casas para pobres, imigrantes ilegais e carochos, tipo slum landlord, conhecidos nos bairros pobres americanos como mais filhos-da-puta que todos os outros, pois ao menos os restantes ricos vivem isolados da pobreza e podem fingir que não sabem das suas verdadeiras consequências.

Claro que no meio disto tudo o estúpido sou eu. A minha culpa esquerdista impede-me de o ignorar, ou de o desprezar da mesma forma que o interlocutor do consulado, o meu conforto impede-me de o ajudar e os meus preconceitos impedem-me de imaginar uma vida para ele fora de determinados parâmetros (esta última parte não interessa para nada, pois o meu imaginar em nada influencia a vida deste caralho). Soluções tenho poucas. Perante isto, e tenho consciência que estou a extrapolar muitas coisas de um episódio insignificante, um gajo ou ganha um sentido mais exacerbado da sua importância neste mundo e dedica-se activamente a procurar uma vida melhor para todos ou fecha-se num niilismo frouxito, assente na convicção de que tudo o que que nos rodeia neste momento não passa de um peido num vendaval. Pondo tudo isto em contexto, transversal ou temporal, somos apenas uma fracção de um grão de areia nas galáxias e planetas que por aí andam, ou uma fracção de segundo nos milhões de anos que nos precederam e que ainda sobram na história do universo. Só que mesmo um ateu como eu, que não atribui objectivos metafísicos à existência, nem adopta uma visão teleológica da evolução, não pode deixar de considerar a vida como uma coisa única e especial. É exactamente a aleatoridade da nossa existência, não só enquanto espécie mas também enquanto indivíduos, que me leva a não desistir de considerar a vida como algo de importante, que deve ser protegido e melhorado.

Só que isto leva a outros problemas. Como melhoramos a vida das pessoas? Atenção, vivo num país desenvolvido, com um sistema nacional de saúde, educação quase gratuita e outros serviços sociais. Ninguém está a morrer à fome neste contexto e só pessoas no extremo do mal-estar é que vivem na rua. Logo estou a a falar de uma melhoria que de certo modo entra no foro privado das pessoas. Trata-se de os ajudar a levar uma vida menos merdosa, ou menos violenta, ou menos auto-destrutiva, o que implicaria certamente interferir com as suas decisões individuais. Quem sou eu para o fazer? Todas as minhas decisões são boas? Foda-se! Certamente haverá quem ache que tendo em conta a minha posição inicial de partida na vida poderia ter conseguido muito mais. Se essas pessoas tentassem interferir com as minhas decisões dava-lhes um pontapé no filho-da-puta do rabo. Em termos estruturais, a educação apenas é solução no longo-prazo e sempre com falhas, os serviços sociais apenas ajudam nalguns casos e o terceiro sector não resolve nada. Salários em condições normalmente ajudam, mas no momento político em que vivemos ganhou o outro lado, aquele que gosta de pagar mal e esmifrar os trabalhadores.

Pouco me resta excepto a solidariedade silenciosa e um esforço individual para pelo menos dar uma vida boa aos que me rodeiam, o que está muito para lá da simples contribuição material e inclui o esforço de criar um clima conducível ao desenvolvimento pleno do nosso potencial. Quanto ao resto continuarei à procura do melhor veículo.

segunda-feira, 16 de março de 2015

Pós-modernismo

Tudo me leva a crer que o mundo em geral é um sítio bastante aprazível e que os seres humanos em particular são a melhor consequência aleatória da evolução, apenas secundados pelo momento em que a roda se deixou inventar por um bípede homo sapiens sapiens, sendo estes dois apenas terciados pelo momento em que se inventou, como produto da aprendizagem colectiva e do esforço individual, a sanita. Os seres humanos são especialmente mais interessantes e bondosos que os restantes animais que habitam o nosso prazenteiro planeta. Imagine-se que havia por exemplo 6 mil milhões (quase 7) de leões, ou cães, ou cabras montanhesas na terra, cruze-se essa especulação com a informação de que os animais irracionais raramente coexistem em grupos grandes, especialmente se houver mais que duas pichas ao barulho e chegue-se à conclusão que o bailado majéstico protagonizado diariamente por latagões pelo mundo fora nos seus vários movimento pendulares, especialmente em ambientes urbanos onde todos os dias nos cruzamos pelo menos com 10 pessoas parvas, sem que daí advenham erupções de pancadaria e desacatos violentos e antes pelo contrário as pessoas cheguem a ser simpáticas e prestáveis com estranhos, é sinal de que nós, seres humanos, somos uma coisa única, especial e bonita.

Tendo disto isto há dias de merda. Dias em que tudo o que nos foi dito, sugerido ou respondido parece ofensivo e só apetece um gajo desancar uma outra pessoa mais pequena que nós e que não consegue ripostar, ou fugir para o deserto e viver como aquele eremita cuja história partilhei antes, ou encharcar-se em vinho e cerveja até adormecer, torpe e confuso. Dias em que o Passos Coelho parece ainda mais um gigantíssimo monte de merda e em que os pronunciamentos do Cavaco, que prevê um crescimento económico acima do esperado pelo Governo (caralhos me fodam que este presidente é de tal forma espectacular que consegue encontrar tempo na sua agenda preenchida para rabiscar no guardanapo umas operações econométricas e oferecer as suas previsões de crescimento, actividade para a qual o Banco de Portugal contrata pelo menos 10 pessoas e o Governo outras 10, mais 10 para ajudar a carregar a pasta com os números do Parlamento para Bruxelas, que aquela merda é pesada), parecem ainda mais estapafúrdios e de má-fé. Não é que o gajo mal interferiu com as violações colectivas a que este governo tão prazenteiramente se entregou, mas agora já quer condicionar o próximo governo, sugerindo que tipo de reformas terão que ser implementadas.

Mas pronto meus amigos, o que é preciso é um gajo dormir de consciência tranquila, preferivelmente com os tomates vazios (ou a vagina devidamente esgotada) e o frigorífico carregado. Tudo o resto é supérfluo.

terça-feira, 10 de março de 2015

Uma anedota

Gostava de vos contar uma anedota. É assim: 

Santana Lopes

segunda-feira, 9 de março de 2015

Sou o maior do mundo

Alguém me explica porque é que não consigo engraçar com o João Magueijo? Tanta desenvoltura para depois escrever as merdas que escreve? Eu até gosto da ideia de um gajo ser professor de Física e ao mesmo tempo estar a cagar-se para as aparências. Só que isso só vale a pena se acrescentar valor ao discurso aborrecido e desinteressante que infelizmente domina o espaço publicado em Portugal. Mas este gajo só acrescenta merda. Naquele editorial do Público põe-se a falar da imprensa britânica e só diz cagadas. O gajo nunca leu o Guardian, o Independent ou o The Economist? Pois eu, na minha imensa sabedoria, raramente encontrei espaços de comunicação social onde a auto-crítica fosse tão normal. O Magueijo deve ter dado uma olhadela aos pasquins de direita, onde naturalmente o patriotismo paternalista deverá dominar, assim como domina em Portugal, na Alemanha ou nos EUA, e extraiu daí conclusões que lhe permitem permanecer confortavelmente ignorante sem ter que se sentir culpado. Se calhar se o gajo aplicasse a estas observações a mesma atitude de observação sistemática que eu assumo ele aplique ao estudo da física, conseguisse chegar a conclusões mais interessantes. Já quando ele publicou aquele livro fiquei mal impressionado, pela mesma razão. O tipo sugeriu que as britânicas mais facilmente oferecem broches que dois beijinhos na cara. A sério? Há aqui não só um conservadorismo mal-cheiroso (e se fosse verdade, qual é o problema?) como uma falta de vontade brutal em observar verdadeiramente uma realidade que lhe é estranha para depois oferecer um comentário interessante e novo. Poderia ter mantido o mau-gosto, que bem feito e no lugar certo tem a sua piada, a atítude crítica, a vontade de dizer mal e tudo o resto, mas ter usado essas coisas para dizer alguma coisa interessante. Assim parece apenas um velho resmungão, que se está a cagar para as aparências e se mija pelas pernas abaixo porque acha que o mundo lhe deve algo, em vez de um gajo sem preconceitos que usa a sua posição privilegiada para comunicar algo de novo.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Um brother Mouzone para nos proteger da Troika

Um brother Mouzone para nos proteger da Troika

Nota: os labregos empertigados que puseram o vídeo do brother mouzone a disparar contra o cheese no youtube não permitem que o dito cujo seja incorporado aqui. Logo terão que seguir o link.

Segunda nota: o Paul Krugman corrobora o que eu disse hoje na sua crónicazinha no pasquim do costume. Se lerem o texto de trás para a frente e de cima para baixo poderão descodificar claramente a referência que ele faz a este blog.


quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Barulho

Há demasiado ruído em torno disto da Grécia. Mantenho a minha posição: 1º as coisas correram bem ao governo Syriza; 2º tudo vai depender da execução de um programa de austeridade assente na eficiência do estado, combate à evasão fiscal, correcção de excessos no sector público e alívio para a maioria dos cidadãos; 3º daqui a um ano, dependendo do que acontecer na Grécia e no resto da periferia europeia, será então possível tirar conclusões. Fiquemos por aqui, por agora.

Passam-se neste momento coisas de extrema gravidade (ou de gravidade extrema, dependendo de a escrita estar inquinada por anglicismos ou não, caralho!) neste mundo, que exigem a minha atenção.

1º, o Bruno de Carvalho é uma excelente pessoa. É claro um bocado parolo, labrego até, mais daí advém a sua espetacularidade. O Sporting precisava de um mudança abrupta e furiosa, para evitar a falência que estava logo ali ao virar da esquina. Tendo em conta a tendência  anterior para ter à frente do clube pessoas de bem medíocres (perdoem-me a redundância), era preciso isto mesmo, um tipo meio tonto que deixe as pessoas azamboadas com tanto movimento inconsequente. Daqui a uns anos ele evoluirá seguramente para um estatista da bola. Veja-se o presidente do Benfica, cujo nome agora não me lembro, mas parece-me que rima com 'labrego mal cheiroso', e confirme-se que se este animal conseguiu atingir a posição de respeitabilidade que correntemente ocupa, o Bruno de Carvalho, com um bocadinho mais de experiência e acumulando o gravitas que daí decorre, será dentro de pouco como um buda dourado que as velhas beatas do Campo Grande vão querer beijar dia e noite para dar sorte.

2º o filme Boyhood, que ainda não vi, parece ser interessante. Mas por outro lado, tenho dúvidas. Por outro lado, ainda mais ao lado, descobri isto. Ainda não assinei, por razões que vou clarificar dentro em pouco, quando tiver tempo para concluir aquele post épico que ando a preparar desde há vários anos, e que vai provocar pelo menos três orgamos a quem o ler. Mas vou continuar a pensar que gostava muito de me juntar a este serviço, embora duvide que o vá fazer.

3º o facebook é uma fonte de alegrias apenas comparável ao regozijo de me encontrar com o criador cada domingo na missa da manhã.

4º continuo a achar que aquela conversa dos portugueses isto e aquilo e que não prestam para nada e o caralho que os foda a todos, é muito cocó.

5º o Passos Coelho e sua ministra das finanças juntamente com o Mariano Rajoy são seguramente e para todo o sempre os maiores filhos da puta a pisar a terra deste lado dos pirinéus. Se quiserem uma análise técnica que sustente esta minha afirmação terão que esperar.

6º gosto de beijinhos, abraços e carícias.

7º se alguém tiver sugestões sobre como posso melhorar a minha gramática, sintaxe e qualidade geral da escrita, sem ter que estudar qualquer uma destas coisas, nem passar mais tempo a rever os textos, nem trabalhar muito, diga-me por favor.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Isto cheira bem amigos

Houve um cheiro a triunfalismo no ar, entre os paizinhos austeros, depois do acordo com a Grécia na sexta-feira. A narrativa é que tinham ido todos para casa contemplar os bustos do Adam Smith que adornam as suas secretárias e beber brandy enquanto se congratulavam com o enrabamento colectivo ao povo grego. Muitos jornalistas, como os perritos do pavlov, limitaram-se a debitar cá para fora que assim tinha sido. Só que desde o início se ouviram uns gemidos que indicaram que isto não era bem assim. Especialmente a oposição de Portugal e de Espanha, que deu logo a entender que as coisas correram melhor à Grécia do que parecia. Que melhor indicador pode haver, que ter os maiores filhos-da-puta do continente europeu a opor-se a um acordo?

O que eu disse aqui há uns posts atrás foi que qualquer mudança boa teria que ocorrer devagar e na continuidade, caso contrário a Grécia tornar-se-ia na Venezuela da Europa. O Syriza tinha portanto que evitar o voluntarismo estapafúrdio dos que estão à sua esquerda (voluntarismo expresso por mim no post anterior, provando uma vez mais que os gregos tomaram a decisão correcta ao não me nomear para ministro das finanças) e a humilhação desejada pelos paizinhos austeros. Era um carreirinho apertado, que eles conseguiram navegar. Este artigo, de um insider que ao mesmo tempo é um outsider, diz isto mesmo. O Syriza conseguiu evitar um aprofundamento da austeridade, que seria necessário para cumprir o tal alvo dos 4.5% de superavit nas contas primárias. Conseguiram travar as privatizações sanguessugas que estavam planeadas. E conseguiram tempo para apresentar um documento que ofereça alternativas. Isto era o que as pessoas sérias (como eu) queriam. O contexto moveu-se um milímetro na direcção correcta e daqui para diante, se os gregos persistirem e forem acompanhados por mudanças positivas em Espanha e Portugal, terão sido eles a iniciar o processo que nos devolveu um bocadinho de dignidade.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

O que esperavam?

Vejam-me bem estar merda (tirada da fonte do costume):


Agora digam-me lá se perante isto é aceitável que o governo grego, se tiver um pouco de amor próprio, possa aceitar a continuação do mesmo? Bardamerda com a Zona Euro! Enquanto houver praia, azeite e feta os gregos hão-de sobreviver. Poderá ser pior do que o actual, só que como (deveriam) dizer os liberaris clássicos, há princípios fundamentais, como o livre-arbítrio, que suplantam tudo o resto. A democracia é uma forma imperfeitíssima de livre-arbítrio, mas é alguma coisa!

Let it go, bitches!

A Grécia vai sair do Euro? Talvez, embora isto possa ser tudo uma encenação. Se sair os gregos vão sofrer? Claro que sim, mas será que vão sofrer mais que agora? Isso já ninguém sabe meus amigos. A malta bem pode esmagar-nos com a econometria e os modelos matemáticos e o caralho que os parta a todos, mas o futuro tem esta tendência intrínseca para não ter acontecido ainda.

Os principais problemas da Grécia, tanto quanto sei, seriam três: a dívida detida por estrangeiros continuaria a estar em Euros. Com a introdução do Varoufakma, a nova moeda Grega, que seguramente perderia valor rapidamente, a dívida tornar-se-ia mais insustentável ainda. Mas aqui nada de novo, tendo em conta que a dívida actual é também ela impagável. Mais, isto aconteceria numa situação de bancarrota, dando ao governo grego opções reais para renegociar a bastarda da dívida. O segundo problema é que durante muitos anos os governos gregos teriam dificuldades em obter empréstimos. Mais uma vez há aqui pouca diferença com a situação actual. O terceiro e mais grave seria a falência dos bancos gregos e os problemas que resultariam daí. Há formas de lidar com isso mas o processo será sempre difícil. Há obviamente outros problemas para além do que aconteceria dentro da Grécia, nomeadamente o contágio para o resto da zona Euro, potencial falências de bancos alemães ou franceses, etc. Mas por que razão deveria a grécia preocupar-se com os que ficam? Além do mais, se os gregos saírem a Alemanha quase de certeza que nos vem dar um rebuçado, para mostrar aos gregos o que perderam. O governo português vai sorrir a toda a escala, deixando os dentes podres à mostra, contente na sua própria servilidade. Isso servirá para travar o risco desse tal de contágio de que falam.

Por outro lado, a economia grega está, em termos técnicos, fodida e o pouco que resta beneficiaria de um Varoufakma depreciado. Já estou a ver as alemãs e os alemães a reservar furiosamente pacotes de Urlaub nas ilhas gregas, em busca de homens viris como o Varoufakis, que lhes possam encher o buraco que têm nas suas vidas aborrecidas e regradas.

Tudo isto meus amigos é uma brincadeira do caralho. De um lado os patriarcas austeros, arrogantes e acomodados, sustentados pelas oligarquias do costume. Do outro meia dúzia de hippies. No fim nem cairá o carmo nem a trindade. As merdas ou continuam como estão mais uns anos, ou continuam de forma ligeiramente diferente. Nós, compósitos carbónicos que somos, continuaremos a comer, beber e foder (com sorte), no fim morreremos e apenas nalguns raros casos deixaremos algo para trás que valha a pena recordar. Logo, que caia a Grécia e o que for será!

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Eu explico

Estais todos ensimesmados, perguntando-vos quem tem razão na máscula e titânica disputa entre o novo governo grego e o velho governo alemão. Não vos preocupeis mais que eu resolvo isto de uma assentada: o governo grego claro.

Esta merda desta crise de merda tem várias dimensões, das quais admito que só percebo de algumas. A primeira e mais importante (embora ao mesmo tempo a menos importante como explicarei em seguida) é o debate macroeconómico. Em situação de crise generalizada, causada por um excesso de endividamento e quando as taxas de juro não podem baixar mais, é necessária austeridade ou estímulo económico? Direcciono-vos para o Krugman, que sabe mais disto do que eu e que tem razão. Os que previam a austeridade expansionista e o aumento da inflação devido às injecções de capital dos bancos centrais falharam nas previsões. Agora dizem, especialmente na Europa, que o problema foi que não se foi longe o suficiente. Já tratei deste argumento ao qual não me apetece voltar. Por outro lado os que disseram que era preciso estímulo e que uma injecção estapafúrdia de dinheiro acabado de imprimir na economia não ia causar inflacção tinham razão. Para mim isto está resolvido. Só falta mesmo que as pessoas que verdadeiramente interessam aceitem este facto.

Depois há a questão política, especialmente no que diz respeito à atribuição de responsabilidades*. Até hoje foi possível impor esta austeridade fornicadora à malta através do uso de uma generalização que nunca fez sentido: andámos a consumir acima das nossas possibilidades, logo agora temos que sofrer. Bardamerda! Não andámos, andaram, e digo isto sem querer entrar naquela coisa tonta de me referir aos políticos e aos poderosos como 'eles' e sugerir que são todos iguais. Mas a verdade é que o endividamento público em Portugal não foi feito para fortalecer o estado social mas sim para construir auto-estradas, financiar a Parque Escolar, enriquecer a EDP e a GALP e fazer merdas megalómanas como o Euro 2004 e o Magalhães. Terão, é verdade, o homem e mulher comuns beneficiado um poucochinho e temporariamente com os empregos que isto criou, mas perderam muito mais com a conta que veio a seguir. Acima de tudo quem ganhou foram o Jorge Coelho, o Ferreira do Amaral e outras bestas afins, incluindo o nosso PM Passos Coelho, que embora noutras andanças também andou a enriquecer à nossa pala, por exemplo a treinar especialistas para trabalhar em aeroportos que não existiam. Além disso, lembram-se de quando a mãezinha Ferreira Leite andava a falar da situação explosiva da dívida pública e o Passos Coelho lhe minava o caminho, organizando jantares de apoio a ele mesmo e vindo a público elogiar o Sócrates e defender o TGV? O PM tem culpas, ainda que indirectas, no estado a que isto chegou e governa violentamente e furiosamente contra todos nós porque sabe disto, os alemães sabem disto, e os tipos do FMI sabem disto. Ora o mesmo não se aplica aos tipos do Syriza. Eles não estavam a mamar nos tempos do esbanjamento (que obviamente aconteceu e tinha que ser corrigido) e representam os muitos milhões de gregos que igualmente pouco comeram. Poder-se-á fazer muito dos subsídios especiais dos funcionários públicos ou dos pensionistas, mas na grécia como aqui, esses exageros e disfunções fazem parte de um sistema corrompido a partir de cima e para os de cima. É normal que no meio da corrupção geral um grego normal se aproveite do que pode. Os gajos do Syriza não têm nada a perder e pouco a ganhar com o acomodar das exigências irrazoáveis do centro. Espero que continuem até onde for preciso, para que os gregos possam ao menos ter um pouco de dignidade na pobreza que lhes foi imposta e que continuará por muitos anos, com ou sem Euro e a UE.

Finalmente há a dimensão mais filha-da-puta no meio disto tudo, aquela que não deveria importar de todo mas que é na verdade a mais importante: a atribuição de um carácter moral à dívida. Subjacente às más ideias económicas com que nos fustigam regularmente o PM, a Merkel e o resto da cambada, está a ideia de que a dívida é uma questão moral e que não pagá-la seria uma vergonha individual e colectiva. Mais uma vez, a ver se me faço entender: bardamerda! A contracção de dívida é um contrato em que um lado pede dinheiro emprestado para investir numa coisa, esperando que esse investmento tenha retorno (económico ou outro), e o outro lado empresta esperando obter lucro. Ambos os lados assumem uma certa dose de risco, que cresce à medida que crescem os valores. Se é verdade que os governos grego e português andaram a fazer merda, pedindo dinheiro emprestado para fazer maus investimentos sem retorno, também é verdade que os bancos tinham a obrigação de monitorizar a capacidade de esses mesmos governos lhes pagarem de volta.Correu mal, só que os bancos andam a tentar escapar-se como se não soubessem de nada. Isto meus amigos é uma questão prática, que deveria ter sido tratada de forma prática, sem invocar a merda da culpa cristã que nos faz aguentar indignidades que ainda por cima não funcionam. Em vez disso temos uma mistura de piedade católica com um discurso tecnocrático violentamente aborrecido. Se o Syriza for capaz de arrebentar com isto e dizer: se querem moralidade, pensem na moral de forçar milhões de pessoas à pobreza para pagar dívidas impagáveis - então já terá vencido.





*Essa treta de justificar o direito do governo grego de implementar o seu programa com base na legitimidade democrática é isso mesmo, uma treta. Não porque a dita cuja legitimidade não interesse, mas sim porque todas as relações humanas são aconchegadas por assimetrias de poder que nunca se resolvem. Com ou sem UE, FMI, ou outra merda qualquer, qualquer país terá sempre que lidar com pressões, desistências, compromissos e etc.


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