terça-feira, 19 de maio de 2015

O Osório

Volto à entrevista de há uns posts atrás, para dizer variadas coisas:

1. O Luis Osório gosta de pensar que é poeta, mas aquela merda sai-lhe mal e forçada. Isto afecta-me porque tive aqui há uns anos uma relação homossexual não consumada com o Luis. Assim como o James Franco, eu também sou gay até ao momento da penetração. Vissem-me vocês na minha vida privada, e encontrar-me-iam frequentemente aos melos com um tipo barbudo, com as unhas cravadas na sua nalga e a outra mão afagando furiosamente o seu peito peludo, para que depois, quando o ponho de gatas e agarro no meu mastodonte erecto pronto para o penetrar, decida que afinal não, eu gosto mesmo é de gajas e acabe por ejacular numa tela, como parte da minha série de pinturas conceptuais entituladas: vim-me com querer, lol.

É verdade que a minha relação homosexual não consumada com o Luís foi influenciada negativamente pelo facto de nunca o ter conhecido, nem sequer o ter visto em pessoa. Mesmo assim, houve um período da minha vida em que, ainda imberbe, na busca por uma identidade, me senti identificado com o Osório. Aquela mania de injectar um sentido metafísico em coisas mundanas dava-lhe um ar de alguém que tentava ter um pensamento próprio o que na altura me fascinava, pois infelizmente meus amigos, apesar deste nosso país ser maravilhoso e fantástico em muitos aspectos, a vida intelectual publicada e televisada continua pobrezinha. É agora claro para mim que aquela poesia obfusca mais que ilumina, pois não representa o desejo de pensar o quotidiano de forma mais interessante, mas apenas de projectar o quão interessante é o Luís Osório quando pensa o quotidiano. O problema é que ele não é assim tão interessante.

2. O Pedro Mexia é um gajo intessante, por outro lado. Há algumas pessoas que eu gostava de ser em vez de ser eu, e ele é um deles. Não que gostasse de viver no corpo dele, com as ideias dele, mas sim gostava de ser mais como ele: ler mais, ser mais desprendido para com a vida, ter aquele apego pela melancholia, ter trabalhos interessantes e escrever para os jornais. Se eu conseguisse aliar aquela vida com o meu pragmatismo financeiro, transformava o que ele tem numa máquina de fazer dinheiro, mantendo no centro a actividade intelectual e sem afectar os meus rígidos princípios esquerdistas.

O problema do Pedro Mexia é que ele é produto de um contexto histórico que não escolheu, contexto esse caracterizado pela pobreza do discurso intelectual público em Portugal, aliado a uma sociedade paternalista e conservadora (volto a dizer, que em nada afecta a espectacularidade deste nosso país). Neste contexto, os homens de bem, os 'senadores', os 'paizinhos da nação' e os patriarcas austeros são chamados a comentar sobre tudo, desde política ao futebol passando pela evolução da pornografia na era da internet. Aquela entrevista, feita pelo desinteressante Luís Osório, é produto deste contexto e ao mesmo tempo responsável pela rua reprodução. Ao Pedro Mexia é-lhe pedido que comente sobre uma série de merdas que ela obviamente não pode dominar. Embora eu reconheça os perigos de restringir todas as discussões públicas a campos de especialistas, pois o conhecimento técnico por vezes limita o debate em vez de o alargar, esta merda de perguntas sobre todas as merdas que interessam só faz sentido num contexto em que o conhecimento não é visto como uma coisa útil mas sim como um aliado do estatuto social.