A situação que vivemos nestes últimos anos neste nosso belo país elícita a qualquer pessoa não-psicopata um conjunto limitado de sensações fortes. Para alguns será a frustração, para outros a resignação, para outros a fúria, mas muito pouco para além disso. Tirando meia dúzia de filhos-da-puta enviados por belzebu para nos aterrorizar a merda da vida, fixados na sua própria espetacularidade e abnegação no momento de impor aos portugueses sacrifícios, que como o saberá Nossa Senhora muito lhes custa na sua infinita piedade, pouca gente falará hoje dos últimos anos como um período em que se fizeram as reformas necessárias. Mais, mas isto ficará para uma próxima oportunidade, as reformas verdadeiramente necessárias, algumas delas admito mais próximas do pensamento de direita, não se fizeram; as coisas positivas que aconteceram (como a implosão do BES), deveram-se a inevitabilidades; tudo o resto foi mau, feito com rancor e voluntarismo (não sei o que significa voluntarismo, mas parece-me apropriado neste contexto). Eu não acredito que o Passos Coelho quisesse há 5 anos atrás implementar estas políticas; mas quando chegou ao poder e lhe foi dada apenas essa opção, prosseguiu-a com a violência própria de quem passou uma vida inteira à espera deste momento, e que como tal jamais arriscaria a sua posição desafiando pessoas exteriores ao governo que exigiam isto mesmo e que são muito mais poderosas e estão mais bem preparadas do que ele.
O que nos leva ao Sócrates. O Governo do Sócrates caracterizou-se, em retrospetiva, por muito movimento e pouca acção: algumas mudanças marginais, ainda que simpáticas, no funcionamento do setor público (qualquer pessoa que se recuse a admitir que é bastante mais fácil tratar da papelada hoje em dia do que era há 15 anos atrás, poderá e deverá ir, respeitosamente, à merda), algumas tentativas de criar novos campeões nacionais usando o poder financeiro do estado (ver os casos da Critical Software e da YDreams, que desapareceram dos jornais quando secou a teta pública) e uma coligação com a oligarquia dominante através de um abuso estapafúrdio das parcerias público-privada, que supostamente teria levado ao crescimento. Reformas a sério houve poucas e de pouca consequência.
Deteta o caro anónimo o subtexto que estrutura estes parágrafos? A maior parte das merdas a que fomos sujeitos nos últimos anos (incluindo nos governos do Sócrates) foram, apesar da brutalidade, legais. Sim, eu também quero mandar esta corja toda para a puta da prisão e substituí-los sabe-se lá com quem (sim, sim, eu sei, não são todos iguais...), mas até prova em contrário o único mecanismo que temos para nos livrar deles são as eleições. Tudo o resto, desde a licenciatura do Relvas, aos negócios da Tecnoforma, aos investimentos do Cavaco no BPN, mesmo que tenham acontecido no limite da legalidade, terão ainda assim, muito provavelmente, ocorrido dentro da legalidade. Poder-se-á dizer que o problema é que as leis aceitam merdas que deviam ser ilegais, mas aí, caros amigos, continuamos no domínio da política e não da justiça. Foi por isso que escrevi o que escrevi, surpreendido que o Sócrates se metesse numa coisa destas, quando poderia ter ganho muito dinheiro de forma legal. As cabalas não existem meus amigos, não porque as pessoas sejam particularmente simpáticas, mas porque as cabalas são perigosas. O PSD não estará indefinidamente no poder, logo teria pouco interesse em iniciar um processo que dentro de pouco tempo se poderia virar contra si.
Quanto ao específico do que diz o anónimo, sobre quem é mais corrupto, ao fato de esta história ainda estar no início e ao significado de ser o CM a transmitir a história, não tenho informação para dizer que esteja correto ou errado. Com todo o respeito que qualquer comentador deste blogue me merece, tenho pouco interesse em conjeturar sobre o que significa aquilo que não se vê, porque há matéria suficiente naquilo que se vê para alimentar montanhas de fúria.
PS. Peço desculpa por ter demorado tanto tempo a responder, estava ocupado em mais uma das minhas voltinhas profissionais.
domingo, 30 de novembro de 2014
quarta-feira, 26 de novembro de 2014
Literatura erótica para fazedoras de lares
João era um homem poderoso, que mandava muito, em muitas
pessoas e era uma pessoa sem escrúpulos. Era um mauzão. Mas também era muito
bonito e gostava de dar dinheiro para causas bonitas, como a liga dos animais,
o que é muito importante, porque quanto mais conheço os homens mais gosto dos
bichinhos. Um dia fui a uma reunião de trabalho à empresa do João, que constrói
casas e faz outras coisas na construção civil. O João está muito bem
relacionado, conhece muitos políticos e gente poderosa, assim como ele, e faz
muitas negociatas. Ai ele é um homem mesmo poderoso e mandão. Eu também sou
poderosa, só que os que me apunhalam pelas costas não o sabem porque eu
escondo-o, porque os inteligentes podem esconder que o são e os parvos também.
Espera lá, acho que não é bem assim. Bom, estava eu na reunião e o João disse:
tenho que atender o telefone, é urgente – e saiu da sala. Não sei com quem
estava a falar mas sugeriu-se na sala que poderia ser com o Primeiro-Ministro.
Até me deu um arrepio na espinha, de pensar o quão poderoso ele é.
Quando ele voltou disse que tinha que terminar a reunião,
porque tinha surgido uma coisa urgente e saiu. A chatice é que por causa disto
a minha empresa foi à falência, porque precisávamos mesmo daquele negócio, logo
agora estou sem emprego, mas o João continua a construir casas. Este mundo é
injusto, como nos ensinam os animais, quando são mal tratados e nada acontece
às pessoas que fazem as coisas más, como aqueles polícias que expulsaram do
comboio um jovem só porque ele estava com um cãozinho, que ainda por cima
estava assustado, o cão claro, o jovem quero lá saber. Com o desemprego as
pessoas que me apunhalaram pelas costas riem-se e apunhalam ainda mais, mas a
última a rir não vou ser eu, vão ser eles, porque são parvos e riem-se de tudo,
mesmo quando ninguém conta uma anedota.
Entretanto tive que voltar à empresa do João, para pedir
explicações e ver se ainda se arranjava alguma coisa. Ele deu-me um contrato e
disse que era algo sobre sadomasoquismo, que ia mudar a minha vida, mas eu não
gosto dessas coisas étnicas e queria mesmo era vender-lhe umas caixas de
azulejos. A certa altura ele agarrou-me o braço com força e disse que me queria
beijar e eu dei-lhe dois beijos na cara e ele pareceu desiludido. De modos que
me violou e agora sou a sua escrava sexual.
terça-feira, 25 de novembro de 2014
Mas o quê afinal...
Chego aqui, amigos, cheio de incertezas. Esta história do Sócrates intriga-me. Um gajo que foi PM durante 6 anos, durante os quais desenvolveu relações de proximidade porcalhona com malta na América Latina, para além de todos as outras merdas que terá feito por aí, necessitava mesmo de entrar num esquema de lavagem de dinheiro? Mas afinal de quanto dinheiro é que este gajo precisava? Mas o tipo chuta cavalo como quem come bolachas digestivas cobertas com chocolate mergulhadas em café com leite? Um gajo com este currículo não conseguia arranjar meia dúzia de tachos, para além daquele que já tinha como consultor para a América Latina, para conseguir pelo menos, sem ter que se esforçar muito, um rendimento de 25.000 euros ao mês (sem se esforçar muito, reforço)? Juntando isto a meia dúzia de investimentos bem colocados, usando a informação privilegiada a que tem acesso sobre quem vai ganhar este ou aquele contrato, e o tipo estava arrumado para a vida, sem quebrar uma puta duma lei. Com as devidas e enormes diferenças que separam os dois personagens, veja-se o Tony Blair, que tem feito uma fortuna fazendo sabe-se lá o quê. O Sócrates estava de tal forma encantado com o seu próprio reflexo, no espelho emoldurado com motivos barrocos que tem no apartamento que comprou em Paris, que não conseguia ver o óbvio? E honestamente, o que é que este gajo pensava que lhe ia acontecer? Que ia viver uma vida de luxo em Paris, sustentada com sacos de dinheiro levados pelo motorista, sem que ninguém dissesse nada? A sério, este tipo, que tem metade do país ressabiado (em grande parte com razão, diga-se) à espera de sangue, à espera de o ver cair e ser arrastado em merda de vaca e besuntado com água de esgoto, este tipo, dizia eu, esperava mesmo que se ia safar com isto? Esta merda não bate certa.
Há quem ache que tudo acontece por uma razão, que tudo é planeado e executado com um propósito. Na verdade, somos todos mais básicos, selvagens e irracionais do que isso. Se quem está no topo da pirâmide social parece agir com mais propósito e consequência é porque o seu ponto de partida é diferente e os recursos que têm à sua disposição para decidir sobre qual o trajeto a seguir são melhores. Ainda assim faz-se muita merda. Tudo isto para dizer que eu não acredito que o Sócrates tenha planeado isto com cuidado, tendo agora sido apanhado apenas por deslize. Não, este tipo, se tivesse cogitado um poucochinho que fosse com aquela cabeça de merda mantida sã (pensava-se) com tantas corridas matinais, teria percebido que este caminho levaria sempre, invariavelmente, ao que levou. O que significa uma de três coisas: ou o Sócrates tem sido desde há muito um dos maiores criminosos que este país já viu e como tal nunca lhe ocorreu que teria de levar uma vida diferente, pois o seu quadro mental assume como normal e razoável ser criminoso. A ser assim, estivemos, caros amigos, bastante mais próximos do abismo do que nos apercebemos e valeu-nos a crise financeira para afastar este gajo. Ou este gajo tem uma espécie de dissonância cognitiva, ou dito de outra forma, é estúpido, o que lhe impediu de ver o que era óbvio. Assim como um puto parvo de 5 anos acha que basta pôr-se atrás do sofá, ainda que deixe o pé a mostra e continue a fungar do nariz, para se esconder dos pais, o Sócrates achou que ninguém ia notar a vida que levava. A terceira opção é que tudo isto é mentira, uma cabala para o tramar a ele ao António Costa, ponto de vista ao qual tenho dificuldade em atribuir razoabilidade.
Será impossível, creio, ao Sócrates sair ileso disto. O gajo está bem e completamente fodido. Tudo o que nos resta saber é se o gajo é um sociopata ou tem um monte de merda em vez de cérebro, já que antevejo poucas alternativas.
Há quem ache que tudo acontece por uma razão, que tudo é planeado e executado com um propósito. Na verdade, somos todos mais básicos, selvagens e irracionais do que isso. Se quem está no topo da pirâmide social parece agir com mais propósito e consequência é porque o seu ponto de partida é diferente e os recursos que têm à sua disposição para decidir sobre qual o trajeto a seguir são melhores. Ainda assim faz-se muita merda. Tudo isto para dizer que eu não acredito que o Sócrates tenha planeado isto com cuidado, tendo agora sido apanhado apenas por deslize. Não, este tipo, se tivesse cogitado um poucochinho que fosse com aquela cabeça de merda mantida sã (pensava-se) com tantas corridas matinais, teria percebido que este caminho levaria sempre, invariavelmente, ao que levou. O que significa uma de três coisas: ou o Sócrates tem sido desde há muito um dos maiores criminosos que este país já viu e como tal nunca lhe ocorreu que teria de levar uma vida diferente, pois o seu quadro mental assume como normal e razoável ser criminoso. A ser assim, estivemos, caros amigos, bastante mais próximos do abismo do que nos apercebemos e valeu-nos a crise financeira para afastar este gajo. Ou este gajo tem uma espécie de dissonância cognitiva, ou dito de outra forma, é estúpido, o que lhe impediu de ver o que era óbvio. Assim como um puto parvo de 5 anos acha que basta pôr-se atrás do sofá, ainda que deixe o pé a mostra e continue a fungar do nariz, para se esconder dos pais, o Sócrates achou que ninguém ia notar a vida que levava. A terceira opção é que tudo isto é mentira, uma cabala para o tramar a ele ao António Costa, ponto de vista ao qual tenho dificuldade em atribuir razoabilidade.
Será impossível, creio, ao Sócrates sair ileso disto. O gajo está bem e completamente fodido. Tudo o que nos resta saber é se o gajo é um sociopata ou tem um monte de merda em vez de cérebro, já que antevejo poucas alternativas.
segunda-feira, 24 de novembro de 2014
Calma amigos!
O Sócrates foi preso. O que é que este facto significa para todos nós?
Primeiro, há uma vaga para comentador na RTP. Quando me vierem bater à porta, o que seguramente está prestes a acontecer, direi dignamente que não, pois não me vendo assim, seus capitalistas de merda, saiam daqui, xô! O facto de a RTP ser pública em nada diminui o seu alinhamento claro com as forças neoliberais que nos dominam a todos, especialmente tendo em conta que estas tais forças têm muito pouco de liberais e de neo, lembrando-me mais os estados corporativos do antigamente, em que os lucros de meia dúzia de pessoas de bem, grandes industriais e latifundiários violadores de criadas estavam assegurados por um confortável sistema legal.
Segundo, embora talvez devesse ser primeiro, este encarceramento significa que o Pacheco Pereira, e apenas o Pacheco Pereira, sabe recolher, processar e analisar informação, pois foi um dos poucos que disse desde o início que este tipo era de pouca confiança, quando andava tudo maravilhado (incluindo um tal de Pedro Passos Coelho, um dos principais apoiantes do Sócrates há uns poucos anos atrás) com a merda do Simplex, do Magalhães e das reformas da cócó da Ministra da Educação. Já agora, um aparte: a senhora Maria de Lurdes Rodrigues, recentemente condenada por ter dado uma cunha a alguém (como se atreveu ela, mas pensa que vive onde, em Portugal??), foi a pior professora que tive em cinco longos anos no meu curso de Sociologia. Mas mesmo a pior e isto é verídico meus amores. Pior ainda que o Alexandre Melo, que curiosamente foi a certo ponto nomeado conselheiro cultural do Sócrates, apesar de ser de Direita e, volto a realçar, mau professor.
Terceiro, e isto se calhar é que devia mesmo ser primeiro, apesar da vontade de todos nós em despejar nesta prisão toda a frustração que sentimos nos últimos anos, fingindo que ela significa o momento em que o país se vinga do gajo que nos lixou, estamos quadradamente enganados. O Sócrates não está a ser julgado pelo que fez enquanto PM, nem sequer pelos escândalos que nunca o largaram enquanto se encontrava nestas funções. Está sim a ser julgado (tanto quanto consigo perceber sem exceder o limite de 10 artigos grátis que o caralho do Público me oferece todos os meses) por coisas que se passaram depois. Ou seja, não esperem que venha daqui a catarse colectiva que tanto precisamos, quando finalmente podemos dizer: afinal o gajo era mesmo criminoso e foi por isso que nos enganou. Já agora outro aparte: é na boa dizer que a culpa foi do Sócrates e continuar a ser um bom socialista como eu, porque os gastos do Sócrates tiveram pouco a ver com o estado social e mais a ver com a conta bancária do Jorge Coelho e do gajo que fabricou o Magalhães. Logo estai descansados fofinhos, continua tudo na mesma.
Quarto, teremos obviamente que esperar uns anos para que o mesmo aconteça ao Pedro Passos Coelho e ao Paulo Portas, uma vez que tudo leva a crer que enquanto se mantiverem em funções nem a Tecnoforma, nem a tal fundação para a cooperação, nem os submarinos, serão devidamente investigados. Torna-se claro também que ambos acabarão por ser presos por uma merda qualquer posterior e menos importante, nomeadamente, por montarem bares de alterne ou qualquer coisa do género.
Acho que era isto.
Primeiro, há uma vaga para comentador na RTP. Quando me vierem bater à porta, o que seguramente está prestes a acontecer, direi dignamente que não, pois não me vendo assim, seus capitalistas de merda, saiam daqui, xô! O facto de a RTP ser pública em nada diminui o seu alinhamento claro com as forças neoliberais que nos dominam a todos, especialmente tendo em conta que estas tais forças têm muito pouco de liberais e de neo, lembrando-me mais os estados corporativos do antigamente, em que os lucros de meia dúzia de pessoas de bem, grandes industriais e latifundiários violadores de criadas estavam assegurados por um confortável sistema legal.
Segundo, embora talvez devesse ser primeiro, este encarceramento significa que o Pacheco Pereira, e apenas o Pacheco Pereira, sabe recolher, processar e analisar informação, pois foi um dos poucos que disse desde o início que este tipo era de pouca confiança, quando andava tudo maravilhado (incluindo um tal de Pedro Passos Coelho, um dos principais apoiantes do Sócrates há uns poucos anos atrás) com a merda do Simplex, do Magalhães e das reformas da cócó da Ministra da Educação. Já agora, um aparte: a senhora Maria de Lurdes Rodrigues, recentemente condenada por ter dado uma cunha a alguém (como se atreveu ela, mas pensa que vive onde, em Portugal??), foi a pior professora que tive em cinco longos anos no meu curso de Sociologia. Mas mesmo a pior e isto é verídico meus amores. Pior ainda que o Alexandre Melo, que curiosamente foi a certo ponto nomeado conselheiro cultural do Sócrates, apesar de ser de Direita e, volto a realçar, mau professor.
Terceiro, e isto se calhar é que devia mesmo ser primeiro, apesar da vontade de todos nós em despejar nesta prisão toda a frustração que sentimos nos últimos anos, fingindo que ela significa o momento em que o país se vinga do gajo que nos lixou, estamos quadradamente enganados. O Sócrates não está a ser julgado pelo que fez enquanto PM, nem sequer pelos escândalos que nunca o largaram enquanto se encontrava nestas funções. Está sim a ser julgado (tanto quanto consigo perceber sem exceder o limite de 10 artigos grátis que o caralho do Público me oferece todos os meses) por coisas que se passaram depois. Ou seja, não esperem que venha daqui a catarse colectiva que tanto precisamos, quando finalmente podemos dizer: afinal o gajo era mesmo criminoso e foi por isso que nos enganou. Já agora outro aparte: é na boa dizer que a culpa foi do Sócrates e continuar a ser um bom socialista como eu, porque os gastos do Sócrates tiveram pouco a ver com o estado social e mais a ver com a conta bancária do Jorge Coelho e do gajo que fabricou o Magalhães. Logo estai descansados fofinhos, continua tudo na mesma.
Quarto, teremos obviamente que esperar uns anos para que o mesmo aconteça ao Pedro Passos Coelho e ao Paulo Portas, uma vez que tudo leva a crer que enquanto se mantiverem em funções nem a Tecnoforma, nem a tal fundação para a cooperação, nem os submarinos, serão devidamente investigados. Torna-se claro também que ambos acabarão por ser presos por uma merda qualquer posterior e menos importante, nomeadamente, por montarem bares de alterne ou qualquer coisa do género.
Acho que era isto.
sexta-feira, 21 de novembro de 2014
Gosto mesmo do facebook
Aos que me apunhalam pelas costas: Parem com isso que magoa
Gosto muito do facebook
Quanto mais convivo com os animais mais gosto dos seres humanos
quinta-feira, 20 de novembro de 2014
A natureza das coisas
Como compete ao bom intelectual burguês da esquerda bêbeda,
estou a escrever esta coisa num avião, enquanto transito de uma capital
regional europeia para outra, com paragem numa capital nacional para mudar de
avioneta. Além disso, este texto materializa-se perante os meus olhos (para espanto
do meu cérebro exausto que foi obrigado a acordar às 4 da matina para apanhar
um caralho dum voo à puta das 6 horas da manhã) numa tablete daquelas novas da
Microsoft. Digo isto para impressionar as pessoas com o glamour que cintila que
nem brilhantina sobre a minha vida. Além disso sou ateu, só para que saibam.
Isto lembra-me um texto que li há uns bons anos do Júlio
Carrapato, o anarquista algarvio e porventura a pessoa mais espectacular de
sempre. O Júlio contava que foi convidado, juntamente com outras eminências
nacionais, para fazer parte da audiência num programa televisivo em que iam
entrevistar o Álvaro Cunhal. O Júlio, como bom anarquista que é, deplora o
materialismo histórico com o mesmo vigor com que se maravilha perante as
tragédias do capitalismo; e assim como um guerrilheiro afiliado à CNT apontando a sua
carabina aos fascistas do partido comunista aquartelados no outro lado das
Ramblas, o Júlio preparou-se para arrasar o Cunhal, com quatro (ou cinco, agora
não me lembro) questões-ensaio, em que por um lado atacava o marxismo
não-reconstruído do dito cujo e por outro desconstruía o mito que se formava em
seu redor no pós 25 de Abril. O Júlio, apesar da sua erudição, ou talvez por causa dela, claramente sofre de
uma dissonância cognitiva que lhe impediu de ver que ninguém o queria ali para
questionar o quer que fosse, mas apenas para convergir totalmente ou divergir
apenas ao de leve com a narrativa oficial que já na altura se desenhava na
cabeça dos entrevistadores: as ideias de Cunhal são más, mas há que apreciar a
coerência do homem. Ou seja, não lhe deixaram perguntar nada de jeito e a
questão truncada que lhe foi permitido fazer foi tratada com derisão pelo
Cunhal (derisão… sou mesmo culto).
Mas o que importa não é isto. O Júlio descreveu com pormenor
os detalhes da viagem, paga pela RTP, incluindo os croquetes que lhe foram
servidos antes do programa para forrar o estômago. Tudo isto é muito anacrónico
claro. Quem é que se daria ao trabalho de convidar o anarquista de Loulé hoje
em dia, para assistir ao prós e contras por exemplo, e lhe pagaria o jantar? No
fim, o Júlio argumenta que não teve vergonha absolutamente nenhuma de aceitar
os presentes envenenados do capitalismo. Pelo contrário, a existir um convite
futuro, exigiria um hotel melhor e um jantar mais apropriado. O Júlio tem
obviamente razão. Essas merdas de forçar a modéstia e a piedade andando
descalço (metaforicamente) quando alguém nos oferece uns sapatos de 500Euro é
uma ideia de cagalhão. Há que dizer que sim, exigir ainda melhor e no fim não
agradecer. Há limites claro, a partir dos quais deixamos de ser apenas um peão
que procura aproveitar os confortos da vida pequeno-burguesa e nos tornamos no
agente de opressão que impede muitos mais de sequer ter água potável. Admito
que no limite isto seja como a arte: o valor está nos olhos do observador. Mas
fora desse limite, deverá ser claro quando estais a ser uns filhos-da-puta e
quando estais a tentar ser pelo menos pessoas decentes.
Claro que isto tudo serve apenas para me justificar perante
os deuses pouco perdulários das pessoas de bem.
quinta-feira, 13 de novembro de 2014
A fúria burguesa
Quando este vídeo saiu não comentei, em parte porque este blog ainda não existia e em parte porque.
O impacto que teve foi o esperado: um tumulto breve, seguido de indiferença. Apesar de tanta distorção e grunhido, no fim o que se ouvia na pacatez deste nosso belo país era o barulho dos grilos, indiferentes à sua falta de consciência de classe. A culpa, claro está, não é dos Mão Morta, mas da falta de mecanismos de difusão e discussão de ideias, que permitam manter em debate público um assunto que não esteja directamente ligado à agenda restrita dos partidos políticos e de meia dúzia de pessoas de bem. Fora das caixas de comentários, pouco existe em Portugal para esse efeito.
(Gosto muito dos Mão Morta. O meu álbum favorito destes animais é o 'Há já muito tempo que nesta latrina o ar se tornou irrespirável'. Comprei-o há mais de uma década e ouvi-o pelo menos umas 277.000 vezes. Isto é um aparte irrelevante para o que quero dizer, mas ponho-o aqui caso queiram ir ouvi-lo.)
O vídeo em si é interessante mas frustrante. Primeiro aquela coisa anacrónica de começar por matar o padre, como se a igreja católica fosse hoje em dia minimamente relevante do ponto de vista político . Depois a linguagem em si, que embora agressiva é ao mesmo tempo conservadora, usando um tom e conteúdo pouco diferentes do que se ouviria nos anos 70 ou 80. Além do mais com aquela veia triunfalista, imaginando uma multidão raivosa que perde o controlo e toma por assalto os centros de poder, o que distancia ainda mais o conteúdo da canção, da vida portuguesa actual (óbvio que não tinha que ser esse o seu objectivo). Mas o mais frustrante é que isto não é uma manifestação desregrada de frustração, com potencial para destabilizar o ambiente. Pelo contrário, é um acto bastante burguês, que permite extravasar num contexto estéril e inconsequente a raiva que sentimos pela situação, sem que daí resulte algo de verdadeiramente perigoso. Apesar de terem sido os intelectuais a escrever a História, e terem como tal mistificado momentos em que eles assumiram protagonismo (como o Maio de 68) as revoluções raramente começaram por aqui. Historicamente a mudança (digo isto sem recolher absolutamente nenhuma informação que o comprove) partiu dos exércitos, dos camponeses esfomeados, dos líderes religiosos, dos analfabetos radicalizados. Não será por causa deste vídeo que haverá tumulto em Portugal.
Só mais uma coisita: até gosto da música, especialmente daquele coro. A minha mãe canta uma coisa semelhante para entreter a minha filha: laaaaaa la, la la laaaa la, la la la laaa la laa, la laaa laa. Fico feliz também que se tenham vestidos todos de preto, como os anarquistas, em vez de vermelho, como os comunistas. Se é para sonhar há que fazê-lo em grande!
sexta-feira, 7 de novembro de 2014
Temos os que merecemos?
Dizem os parvos armados em espertos que cada país tem os
políticos que merece. Mas perdoai-lhes senhor, pois a sua parvoíce impede-os de
saber o que dizem.
É óbvio que nenhuma população escolhe os políticos que quer. Através da
agregação de vontades individuais que é o voto, as pessoas escolhem quem podem,
ou seja quem se apresenta a eleições, sendo que para chegar a esse ponto é
preciso passar por uma máquina de triturar vontades cuja lógica tem muito pouco
a ver com quem é o melhor para governar. Essa máquina são os partidos, com
todas as suas redes de cumplicidade e conflito, e a sua lógica interna é aquela
que estrutura qualquer organização: o desejo de sobreviver no mínimo e de
crescer no ideal, com o mínimo de instabilidade possível. As pessoas dos
partidos, dentro de cujas cabeças se materializa uma determinada cultura que
constrange o que vem a seguir, promovem quem lhes garante essa estabilidade e
porventura quem lhes permitirá crescer, através da distribuição de cargos
melhor remunerados do que os que têm no momento. Isto é normal e passa-se em
todo o lado. O importante é que hajam mecanismos de correção, que permitam que
quando o interesse egoísta dos que estão dentro fica fora de controlo, haja um
processo de renovação. Nas empresas, exceto aquelas protegidas pelo plano
tecnológico (lembram-se? Que bonitos foram esses anos, quando nos íamos tornar
num país exportador de tecnologia, sustentado por salários médios de pelo menos
10.000 euros), esta coisa acontece através da restruturação, ou no limite, da
falência. No sector público acontece, ainda que de forma limitada com as
eleições. Mas tem que acontecer acima de tudo com a movimentação sistemática de
forças externas aos partidos, que os obrigam ocasionalmente a ter que ouvir um
grupo diferente de pessoas e a construir novas coligações de poder, que mudam o
quadro de referência dos aparelhos partidários e (com sorte) permite-lhes
conceber a ideia de que têm algo a ganhar com o serviço do interesse público.
Em Portugal isto não aconteceu, porque só se ouvia até recentemente meia dúzia
de pessoas, que nunca mudavam, o que incentivava os partidos a promover quem
conhecia bem os ditos cujos. Claro que as merdas estão a mudar, só que em vez
de uma restruturação de baixo, que levaria a uma mudança da cultura e lógica
internas dos partidos, estamos a assistir a uma restruturação de cima, em que
as redes estão a ser reconfiguradas com figuras ainda piores do que antes (vede
os filhos de Angola), para que tudo mude podendo ficar ainda pior. Os portugueses
não têm os políticos que merecem; têm os políticos que lhes é permitido ter; e
são uma merda.
Fantasmas
Quem nos dera ser assombrados pelos economistas mortos do
Keynes. Pelo menos haveria alguma sofisticação na forma como se pensam as
merdas. É que no nosso caso esvoaçam sobre a economia portuguesa os fantasmas
do aspirante a padreco Oliveira Salazar e um fantasma híbrido do Vasco
Gonçalves e do François Mitterrand. A direita picha murcha que temos gosta
pouco da economia de mercado. Tal como o aspirante a padreco, fala muito dela e
inclusive prega a necessidade de garantir a sua autonomia. Mas na prática,
quando há que tomar decisões, preocupa-se acima de tudo com a manutenção da
oligarquia dominante, não vá a concorrência causar alguma mudança na sociedade
portuguesa, o que seria muito aborrecido.
A esquerda picha curta que temos oscila entre uma versão
mais social do Estado Novo e uma versão pós-moderna do PREC, com uns pós de
primeiros dois anos de governo do Mitterrand (lembro aos filisteus que
Mitterrand nacionalizou uma série de coisas em França quando chegou ao poder,
mas dois anos depois começou a vender tudo, quando percebeu que a gestão destas
empresas pelo sector público estava a facilitar demasiado a sua ambição de
dormir com as filhas dos CEOs, o que não lhe agradava, porque nada o excitava
tanto como um não que claramente queria dizer sim, ah sim, ele sabia bem o queriam
todas essas malandras). Ou seja, a esquerda continua a comer às colheradas
cheias esta conversa de merda de manter os centros de decisão em mãos
portuguesas, para depois os usar para estimular a inovação, o conhecimento e os
empregos do Jorge Coelho. Só que esta conversa, para além de ser
contraproducente, porque qualquer animal selvagem percebe que uma empresa
protegida nunca será tão inovadora quanto uma que tem que competir, é também
producente de um clima de promiscuidade entre meia dúzia de organizações que
obviamente põe em causa a implementação de qualquer política séria de esquerda.
Mas é preciso ser eu a explicar esta merda que devia ser evidente caralho?
Estes fantasmas têm vindo ao de cima nos últimos anos quando
se discutiam as privatizações e agora ainda mais, com histerismo sobrelevado,
com a merda da PT. Ora foda-se, a única razão pela qual a PT está quase na
falência é exatamente devido à política de proteção dos tais centros de decisão
(já agora, para os incautos, reparai que decisão rima com cagalhão), que
encorajou a acumulação de tanto poder no BES e noutros sítios mal frequentados.
O que é preciso é partir tudo aos bocados, vender e seguir em frente. Mas
vender mesmo. Não é vender aos Angolanos, nem aos Chineses, nem ao Paulo de
Azevedo (Paulo é um nome bastante menos distintivo que Belmiro, o que prejudica
um escritor como eu, que claramente privilegia a brevidade e que como tal
preferia poder usar apenas o primeiro nome, o que é impossível com Paulo,
devido à falta de distintividade). Acham mesmo que vamos deixar de ter
telefones fixos, ou serviço de telemóvel se vendermos isto tudo?
É preciso correr com esta corja, desde os fantasmas
medíocres que nos assombram, às pessoas de bem que nos foderam sem misericórdia
e reconstruir o que existe com outra base. Existe por aí gente para o fazer, só
é preciso uns murros (figurativos claro, que isso de violências parece mal)
aqui e ali e chegamos lá.
terça-feira, 4 de novembro de 2014
Subscrever:
Mensagens (Atom)