É óbvio que nenhuma população escolhe os políticos que quer. Através da
agregação de vontades individuais que é o voto, as pessoas escolhem quem podem,
ou seja quem se apresenta a eleições, sendo que para chegar a esse ponto é
preciso passar por uma máquina de triturar vontades cuja lógica tem muito pouco
a ver com quem é o melhor para governar. Essa máquina são os partidos, com
todas as suas redes de cumplicidade e conflito, e a sua lógica interna é aquela
que estrutura qualquer organização: o desejo de sobreviver no mínimo e de
crescer no ideal, com o mínimo de instabilidade possível. As pessoas dos
partidos, dentro de cujas cabeças se materializa uma determinada cultura que
constrange o que vem a seguir, promovem quem lhes garante essa estabilidade e
porventura quem lhes permitirá crescer, através da distribuição de cargos
melhor remunerados do que os que têm no momento. Isto é normal e passa-se em
todo o lado. O importante é que hajam mecanismos de correção, que permitam que
quando o interesse egoísta dos que estão dentro fica fora de controlo, haja um
processo de renovação. Nas empresas, exceto aquelas protegidas pelo plano
tecnológico (lembram-se? Que bonitos foram esses anos, quando nos íamos tornar
num país exportador de tecnologia, sustentado por salários médios de pelo menos
10.000 euros), esta coisa acontece através da restruturação, ou no limite, da
falência. No sector público acontece, ainda que de forma limitada com as
eleições. Mas tem que acontecer acima de tudo com a movimentação sistemática de
forças externas aos partidos, que os obrigam ocasionalmente a ter que ouvir um
grupo diferente de pessoas e a construir novas coligações de poder, que mudam o
quadro de referência dos aparelhos partidários e (com sorte) permite-lhes
conceber a ideia de que têm algo a ganhar com o serviço do interesse público.
Em Portugal isto não aconteceu, porque só se ouvia até recentemente meia dúzia
de pessoas, que nunca mudavam, o que incentivava os partidos a promover quem
conhecia bem os ditos cujos. Claro que as merdas estão a mudar, só que em vez
de uma restruturação de baixo, que levaria a uma mudança da cultura e lógica
internas dos partidos, estamos a assistir a uma restruturação de cima, em que
as redes estão a ser reconfiguradas com figuras ainda piores do que antes (vede
os filhos de Angola), para que tudo mude podendo ficar ainda pior. Os portugueses
não têm os políticos que merecem; têm os políticos que lhes é permitido ter; e
são uma merda.
sexta-feira, 7 de novembro de 2014
Temos os que merecemos?
Dizem os parvos armados em espertos que cada país tem os
políticos que merece. Mas perdoai-lhes senhor, pois a sua parvoíce impede-os de
saber o que dizem.