domingo, 28 de dezembro de 2014

O Natal é fodido

Após celebrar o Natal pareço um buda, do gordo que estou. Além de que tenho estado embriagado 2 em cada 3 dias. Isto entope-me as veias, machuca-me o cérebro e deixa-me sem tempo para escrever. Volto daqui a pouco. Bom ano novo a todos.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Truísmos e coisas óbvias (em actualização)

1. Esta gaja Marisa Moura é narcisista e mal-educada, em todos os sentidos do que é a educação, e a sua análise parva decorre desses dois factos.

2. O Tony Carreira é mais português do que a Marisa Moura e inclusive, embora muito me custe a admitir isto, mais português do que eu. Digo isto como um elogio claro.

3. Quando aparece uma entrevista boa ao Tony Carreira no Público, há logo meia dúzia de narcisos mal-educados, em todos os sentidos do que é a educação, que saltam para a caixa de comentários a demonstrar a sua superioridade intelectual, acabando no processo por demonstrar o seu ressabiamento e parvoíce.

4. Em paralelo, de cada vez que no The Guardian aparece uma recensão a um filme parvo, pelo menos um britânico mal-educado, mal-educado em todos os sentidos do que é a educação, faz questão de escrever nos comentários que não sabe quem é o Seth Rogen, nem o James Franco, nem o que é uma comédia, nem o que é o riso, nem o que é um peido, e escreverá tudo isto em Latim, antes de se envolver uma disputa com outro parvalhão qualquer sobre se Oxford ou Cambridge são melhores.

5. 'Ser jovem' é ser parvo. Logo celebrar os jovens e a juventude é celebrar a parvoíce.

6. N'O Insurgente metade dos colaboradores são extremamemente religiosos, depositando a sua fé num Deus omnipotente, que tudo controla e tudo regula. Os restantes são católicos.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Os hábitos socio-económico-culturais dos portugueses

Após vários dias em que a sondagem aqui ao lado foi conspicuamente e violentamente ignorada por quase todos, alegro-me de vos poder informar que devido a um pico de votação nas últimas horas tivemos mais ou menos 10 milhões de votos. Ou seja, a quase totalidade da população deste nosso belo país votou, incluindo seguramente o Francisco Louçã e a Cláudia Vieira, mas excluindo todo e qualquer estrangeiro que estupidamente tenha aprendido a falar português, purgados que foram os votos dos bárbaros usando uma pergunta de despiste (os portugueses saberão seguramente a qual me refiro).

Estes resultados fenomenais, suficientemente robustos para que a nulidade que gere o Instituto de Ciências Sociais pondere invalidar toda e qualquer ciência social neste país que não os use como base empírica, permitem-me explicar-vos como se comportam os portugueses ao fim-de-semana, especificamente no fim-de-semana que ocorreu antes deste que vem agora e depois do que veio antes do anterior. Primeiro que tudo 75% dos portugueses passou os dias de descanso a esquiar nos Alpes. Parece-me um número razoável e bastante apropriado. Não fosse a austeridade e teriam ido ao invés a Aspen.

Segundo e terceiro, 98% dos portugueses são adeptos do sexo promíscuo e inconsequente, um número que me deprime sobremaneira, pois pergunto-me o que andam a fazer os 2% que discordam. Devem pensar que são a virgem Maria (já agora um aparte: o José nunca desconfiou que a Maria em vez de ter engravidado magicamente, quando Deus a penetrou omnipotentamente, andava na verdade a pôr-lhe os cornos?). O João César das Neves, como badalhoco que é, prepara-se para celebrar em 10 crónicas consecutivas a entrega dos portugueses ao ritual pagão que é o sexo sem compromisso.

Quarto e meio, 100% dos portugueses gostam de comer coisas cozinhadas por velhas porcalhonas. Os chefs que estão a transformar a cozinha portuguesa, e cujo trabalho saúdo e aplaudo, estão essencialmente a cozinhar para estrangeiros e para sujeitos efeminados, tanto homens como mulheres. Quinto menos um quarto, apenas 3% dos portugueses acorda sem memória do que aconteceu a noite passada, o que demonstra que sois todos umas pessoas de bem, pois só um cagalhão mal amanhado é que não consegue aguentar a bubida. Qualquer pessoa decente bebe o máximo de vinho ou cerveja que consegue, bebe dois copos de água de seguida, lava os dentes, deita-se, acorda no dia seguinte sendo capaz de reconstruir ao segundo o dia anterior, bebe uma coca-cola para curar a ressaca e recomeça a beber antes do chá das cinco.

Quanto aos muitos emails que recebi felicitando-me pela prestação deste serviço à nação, não têm de quê, muito agradecido, voilá.

O que são as pessoas?

O Ricardo Salgado é, tanto quanto consigo perceber, uma pessoa. Parece-me óbvio à vista desarmada que ele tem dois olhos, um nariz, uma boca e duas orelhas, elementos que embora não sejam absolutamente indispensáveis, ajudam na caracterização de um elemento como pertencendo ao reino animal e concretamente ao tipo hominídeo. Além disso presumo que o Ricardo Salgado seja também possuidor de dois mamilos, um umbigo, uma pilinha e pelo menos um par de joelhos.

Só que para lá desta caracterização bastante superficial tenho dificuldade em entender o que é o Ricardo Salgado exactamente. Nomeadamente, pergunto-me como é que um gajo passa de rei do universo para rei dos queixinhas. Já sei o que dirão os caros leitores, inteligentes e simpáticos que sois: é tudo a mesma coisa, pois o ego que leva um tipo a querer dominar as merdas tão completamente é o mesmo que o leva a negar que tenha feito merda. Mas o que espanta é a leveza da sua defesa: quem eu? eu não fiz nada de mal, nem sequer tirei as mãos dos bolsos, lixaram-me foi o que foi - Que resposta de labrego, caralho!

O Ricardo Salgado, se fosse com propriedade e solidez o dono disto tudo, como diziam que era, reagia com fúria. Ao ver este gajo caído desta forma, a choramingar para proteger o que ele pensa ser a sua honra, concluo que ele chegou ao topo da pirâmide de poder portuguesa por acaso e não por dedicação. Assim como o Boavista ganhou o campeonato aqui há uns anos porque a competição estava fraquinha (o que levou as pessoas a caracterizar o Jaime Pacheco como um treinador de qualidade, durante esses anos terríveis aos quais nos referimos hoje em dia como ‘os anos em que o Jaime Pacheco foi considerado um treinador de qualidade’, apenas secundados no grau de miséria colectiva que inspiraram pelos anos em que o Paulo Portas existiu) o Ricardo Salgado ganhou a competição na qual ele participava devido à frouxidão da oposição (a aliteração é puramente acidental, juro). Eu sei que é fácil pontapear um cadáver, atividade à qual me estou a entregar com um regozijo bastante visível. Mas tendo em conta que o Pedro Passos Coelho, essa besta inqualificável, sai disto tudo com ar de vencedor, andando por aí a dizer que os donos do país estão a desaparecer, mostra que o Ricardo Salgado não pode ser um gajo inteligente.

Quem é então o Ricardo Salgado? Isto é tudo muito óbvio para o resto da sociedade portuguesa, mas as coisas chegam-me devagar e violentamente, logo perdoem-me por perceber apenas agora o que era óbvio para todos vós: o Ricardo Salgado é o peido final do Estado Novo, um gajo que permaneceu no topo porque não havia mais ninguém para gerir bancos em Portugal há uns anitos atrás; um gajo que nunca soube o que fazer quando lhe deram uma economia aberta, cheia de possibilidades para mexer o dinheiro de um lado para o outro, numa ilusão de trocas financeiras que geram dinheiro sabe-se lá como. O Ricardo Salgado ficou deslumbrado com isto tudo e quando pessoas mais espertas do que ele (como os gajos que mandam em Angola) disseram-lhe para fazer isto e aquilo, ele fê-lo. Apoiado no poder que tinha (porque tinha poder, claro) juntamente com o poder que pensava ter, fugiu para a frente, mas sempre de forma muito paroquial, muito Salazarenta, muito labrega, apoiando-se nas empresas do regime, sem nunca entrar no jogo onde verdadeiramente se faz dinheiro, aquele em que brincam os meninos grandes da City e de Wall Street. Se ele fosse um gajo desses não estava para aí a choramingar: dizia que fez o que tinha que fazer e que se alguém tem problemas que se vá foder. Vejam onde estão os capitães da indústria financeira americana e britânica e onde está o Ricardo Salgado, comparem, e digam-me lá que este gajo não era um fracote.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Respondam

Respondam à sondagem aqui ao lado, que é muito divertida e engraçada. 

O Krugman tem o Friday night music, com umas paneleirices dos Arcade Fire e Lucius e o caralho que o foda na sua imensa sabedoria, inteligência e tendência para estar mais correcto que os opositores. Eu ao invés tenho Friday night comic. Não sei é quanto tempo isto vai durar porque só gosto para aí de 2 gajos que fazem coisas destas. A ver vamos amigos, a ver vamos. 


Têm razão, alguma

O Eduardo Pitta transcreve uma mensagem do patriarca Francisco Louçã, na qual este último tem toda a razão. Eu sei que também já condenei o Sócrates, embora tenha deixado algumas notas de caução que procuram deixar subentendido que respeito a presunção de inocência até prova em contrário. Só que eu não interesso para nada e os tios enjoados que o Louçã cita interessam. Logo eles têm que ter cuidado, eu não.

Chega portanto a altura de revelar uma dimensão da minha vida desconhecida porventura de vossas excelências: vivo, caros amigos, fora de Portugal desde há vários anos. Daí que acompanhe estas coisas à distância, o que me permite escapar aos aspetos mais opressivos do clima pastoso que se vive em Portugal. Mas esta posta do Louçã (ainda que aproveitada pelo Eduardo para completar um quadro argumentativo em que este último acha que isto de fato é uma cabala, tese à qual, como afirmei antes, atribuo pouca credibilidade) exemplifica bem o grau esdrúxulo de pastosidade a que se chegou. Directores e ex-directores de jornais a dizer que o Sócrates é culpado porque sim é uma coisa péssima, que cheira mal, e cobre toda esta história com uma película ainda mais porcalhona do que antes. É verdade também que Sócrates foi dos primeiros gajos a procurar dominar este jogo, envolvendo os comentadores e jornalistas num manto de conversa, powerpoints e sedução que impedia qualquer tipo de debate sério e honesto sobre o que se estava a passar enquanto o dito cujo era PM. Mas nada justifica estas merdas que o Louçã cita.

Foda-se, que raio vai acontecer a este país? Mas pergunto isto a sério, sem o cinismo, ou ironia, ou desconversa que caraterizam o que aqui escrevo: para onde vamos?

domingo, 30 de novembro de 2014

Resposta ao anónimo de há duas postas atrás

A situação que vivemos nestes últimos anos neste nosso belo país elícita a qualquer pessoa não-psicopata um conjunto limitado de sensações fortes. Para alguns será a frustração, para outros a resignação, para outros a fúria, mas muito pouco para além disso. Tirando meia dúzia de filhos-da-puta enviados por belzebu para nos aterrorizar a merda da vida, fixados na sua própria espetacularidade e abnegação no momento de impor aos portugueses sacrifícios, que como o saberá Nossa Senhora muito lhes custa na sua infinita piedade, pouca gente falará hoje dos últimos anos como um período em que se fizeram as reformas necessárias. Mais, mas isto ficará para uma próxima oportunidade, as reformas verdadeiramente necessárias, algumas delas admito mais próximas do pensamento de direita, não se fizeram; as coisas positivas que aconteceram (como a implosão do BES), deveram-se a inevitabilidades; tudo o resto foi mau, feito com rancor e voluntarismo (não sei o que significa voluntarismo, mas parece-me apropriado neste contexto). Eu não acredito que o Passos Coelho quisesse há 5 anos atrás implementar estas políticas; mas quando chegou ao poder e lhe foi dada apenas essa opção, prosseguiu-a com a violência própria de quem passou uma vida inteira à espera deste momento, e que como tal jamais arriscaria a sua posição desafiando pessoas exteriores ao governo que exigiam isto mesmo e que são muito mais poderosas e estão mais bem preparadas do que ele.

O que nos leva ao Sócrates. O Governo do Sócrates caracterizou-se, em retrospetiva, por muito movimento e pouca acção: algumas mudanças marginais, ainda que simpáticas, no funcionamento do setor público (qualquer pessoa que se recuse a admitir que é bastante mais fácil tratar da papelada hoje em dia do que era há 15 anos atrás, poderá e deverá ir, respeitosamente, à merda), algumas tentativas de criar novos campeões nacionais usando o poder financeiro do estado (ver os casos da Critical Software e da YDreams, que desapareceram dos jornais quando secou a teta pública) e uma coligação com a oligarquia dominante através de um abuso estapafúrdio das parcerias público-privada, que supostamente teria levado ao crescimento. Reformas a sério houve poucas e de pouca consequência.

Deteta o caro anónimo o subtexto que estrutura estes parágrafos? A maior parte das merdas a que fomos sujeitos nos últimos anos (incluindo nos governos do Sócrates) foram, apesar da brutalidade, legais. Sim, eu também quero mandar esta corja toda para a puta da prisão e substituí-los sabe-se lá com quem (sim, sim, eu sei, não são todos iguais...), mas até prova em contrário o único mecanismo que temos para nos livrar deles são as eleições. Tudo o resto, desde a licenciatura do Relvas, aos negócios da Tecnoforma, aos investimentos do Cavaco no BPN, mesmo que tenham acontecido no limite da legalidade, terão ainda assim, muito provavelmente, ocorrido dentro da legalidade. Poder-se-á dizer que o problema é que as leis aceitam merdas que deviam ser ilegais, mas aí, caros amigos, continuamos no domínio da política e não da justiça. Foi por isso que escrevi o que escrevi, surpreendido que o Sócrates se metesse numa coisa destas, quando poderia ter ganho muito dinheiro de forma legal. As cabalas não existem meus amigos, não porque as pessoas sejam particularmente simpáticas, mas porque as cabalas são perigosas. O PSD não estará indefinidamente no poder, logo teria pouco interesse em iniciar um processo que dentro de pouco tempo se poderia virar contra si.

Quanto ao específico do que diz o anónimo, sobre quem é mais corrupto, ao fato de esta história ainda estar no início e ao significado de ser o CM a transmitir a história, não tenho informação para dizer que esteja correto ou errado. Com todo o respeito que qualquer comentador deste blogue me merece, tenho pouco interesse em conjeturar sobre o que significa aquilo que não se vê, porque há matéria suficiente naquilo que se vê para alimentar montanhas de fúria.

PS. Peço desculpa por ter demorado tanto tempo a responder, estava ocupado em mais uma das minhas voltinhas profissionais.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Literatura erótica para fazedoras de lares


João era um homem poderoso, que mandava muito, em muitas pessoas e era uma pessoa sem escrúpulos. Era um mauzão. Mas também era muito bonito e gostava de dar dinheiro para causas bonitas, como a liga dos animais, o que é muito importante, porque quanto mais conheço os homens mais gosto dos bichinhos. Um dia fui a uma reunião de trabalho à empresa do João, que constrói casas e faz outras coisas na construção civil. O João está muito bem relacionado, conhece muitos políticos e gente poderosa, assim como ele, e faz muitas negociatas. Ai ele é um homem mesmo poderoso e mandão. Eu também sou poderosa, só que os que me apunhalam pelas costas não o sabem porque eu escondo-o, porque os inteligentes podem esconder que o são e os parvos também. Espera lá, acho que não é bem assim. Bom, estava eu na reunião e o João disse: tenho que atender o telefone, é urgente – e saiu da sala. Não sei com quem estava a falar mas sugeriu-se na sala que poderia ser com o Primeiro-Ministro. Até me deu um arrepio na espinha, de pensar o quão poderoso ele é.

Quando ele voltou disse que tinha que terminar a reunião, porque tinha surgido uma coisa urgente e saiu. A chatice é que por causa disto a minha empresa foi à falência, porque precisávamos mesmo daquele negócio, logo agora estou sem emprego, mas o João continua a construir casas. Este mundo é injusto, como nos ensinam os animais, quando são mal tratados e nada acontece às pessoas que fazem as coisas más, como aqueles polícias que expulsaram do comboio um jovem só porque ele estava com um cãozinho, que ainda por cima estava assustado, o cão claro, o jovem quero lá saber. Com o desemprego as pessoas que me apunhalaram pelas costas riem-se e apunhalam ainda mais, mas a última a rir não vou ser eu, vão ser eles, porque são parvos e riem-se de tudo, mesmo quando ninguém conta uma anedota.

Entretanto tive que voltar à empresa do João, para pedir explicações e ver se ainda se arranjava alguma coisa. Ele deu-me um contrato e disse que era algo sobre sadomasoquismo, que ia mudar a minha vida, mas eu não gosto dessas coisas étnicas e queria mesmo era vender-lhe umas caixas de azulejos. A certa altura ele agarrou-me o braço com força e disse que me queria beijar e eu dei-lhe dois beijos na cara e ele pareceu desiludido. De modos que me violou e agora sou a sua escrava sexual.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Mas o quê afinal...

Chego aqui, amigos, cheio de incertezas. Esta história do Sócrates intriga-me. Um gajo que foi PM durante 6 anos, durante os quais desenvolveu relações de proximidade porcalhona com malta na América Latina, para além de todos as outras merdas que terá feito por aí, necessitava mesmo de entrar num esquema de lavagem de dinheiro? Mas afinal de quanto dinheiro é que este gajo precisava? Mas o tipo chuta cavalo como quem come bolachas digestivas cobertas com chocolate mergulhadas em café com leite? Um gajo com este currículo não conseguia arranjar meia dúzia de tachos, para além daquele que já tinha como consultor para a América Latina, para conseguir pelo menos, sem ter que se esforçar muito, um rendimento de 25.000 euros ao mês (sem se esforçar muito, reforço)? Juntando isto a meia dúzia de investimentos bem colocados, usando a informação privilegiada a que tem acesso sobre quem vai ganhar este ou aquele contrato, e o tipo estava arrumado para a vida, sem quebrar uma puta duma lei. Com as devidas e enormes diferenças que separam os dois personagens, veja-se o Tony Blair, que tem feito uma fortuna fazendo sabe-se lá o quê. O Sócrates estava de tal forma encantado com o seu próprio reflexo, no espelho emoldurado com motivos barrocos que tem no apartamento que comprou em Paris, que não conseguia ver o óbvio? E honestamente, o que é que este gajo pensava que lhe ia acontecer? Que ia viver uma vida de luxo em Paris, sustentada com sacos de dinheiro levados pelo motorista, sem que ninguém dissesse nada? A sério, este tipo, que tem metade do país ressabiado (em grande parte com razão, diga-se) à espera de sangue, à espera de o ver cair e ser arrastado em merda de vaca e besuntado com água de esgoto, este tipo, dizia eu, esperava mesmo que se ia safar com isto? Esta merda não bate certa.

Há quem ache que tudo acontece por uma razão, que tudo é planeado e executado com um propósito. Na verdade, somos todos mais básicos, selvagens e irracionais do que isso. Se quem está no topo da pirâmide social parece agir com mais propósito e consequência é porque o seu ponto de partida é diferente e os recursos que têm à sua disposição para decidir sobre qual o trajeto a seguir são melhores. Ainda assim faz-se muita merda. Tudo isto para dizer que eu não acredito que o Sócrates tenha planeado isto com cuidado, tendo agora sido apanhado apenas por deslize. Não, este tipo, se tivesse cogitado um poucochinho que fosse com aquela cabeça de merda mantida sã (pensava-se) com tantas corridas matinais, teria percebido que este caminho levaria sempre, invariavelmente, ao que levou. O que significa uma de três coisas: ou o Sócrates tem sido desde há muito um dos maiores criminosos que este país já viu e como tal nunca lhe ocorreu que teria de levar uma vida diferente, pois o seu quadro mental assume como normal e razoável ser criminoso. A ser assim, estivemos, caros amigos, bastante mais próximos do abismo do que nos apercebemos e valeu-nos a crise financeira para afastar este gajo. Ou este gajo tem uma espécie de dissonância cognitiva, ou dito de outra forma, é estúpido, o que lhe impediu de ver o que era óbvio. Assim como um puto parvo de 5 anos acha que basta pôr-se atrás do sofá, ainda que deixe o pé a mostra e continue a fungar do nariz, para se esconder dos pais, o Sócrates achou que ninguém ia notar a vida que levava. A terceira opção é que tudo isto é mentira, uma cabala para o tramar a ele ao António Costa, ponto de vista ao qual tenho dificuldade em atribuir razoabilidade.

Será impossível, creio, ao Sócrates sair ileso disto. O gajo está bem e completamente fodido. Tudo o que nos resta saber é se o gajo é um sociopata ou tem um monte de merda em vez de cérebro, já que antevejo poucas alternativas.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Calma amigos!

O Sócrates foi preso. O que é que este facto significa para todos nós?

Primeiro, há uma vaga para comentador na RTP. Quando me vierem bater à porta, o que seguramente está prestes a acontecer, direi dignamente que não, pois não me vendo assim, seus capitalistas de merda, saiam daqui, xô! O facto de a RTP ser pública em nada diminui o seu alinhamento claro com as forças neoliberais que nos dominam a todos, especialmente tendo em conta que estas tais forças têm muito pouco de liberais e de neo, lembrando-me mais os estados corporativos do antigamente, em que os lucros de meia dúzia de pessoas de bem, grandes industriais e latifundiários violadores de criadas estavam assegurados por um confortável sistema legal.

Segundo, embora talvez devesse ser primeiro, este encarceramento significa que o Pacheco Pereira, e apenas o Pacheco Pereira, sabe recolher, processar e analisar informação, pois foi um dos poucos que disse desde o início que este tipo era de pouca confiança, quando andava tudo maravilhado (incluindo um tal de Pedro Passos Coelho, um dos principais apoiantes do Sócrates há uns poucos anos atrás) com a merda do Simplex, do Magalhães e das reformas da cócó da Ministra da Educação. Já agora, um aparte: a senhora Maria de Lurdes Rodrigues, recentemente condenada por ter dado uma cunha a alguém (como se atreveu ela, mas pensa que vive onde, em Portugal??), foi a pior professora que tive em cinco longos anos no meu curso de Sociologia. Mas mesmo a pior e isto é verídico meus amores. Pior ainda que o Alexandre Melo, que curiosamente foi a certo ponto nomeado conselheiro cultural do Sócrates, apesar de ser de Direita e, volto a realçar, mau professor.

Terceiro, e isto se calhar é que devia mesmo ser primeiro, apesar da vontade de todos nós em despejar nesta prisão toda a frustração que sentimos nos últimos anos, fingindo que ela significa o momento em que o país se vinga do gajo que nos lixou, estamos quadradamente enganados. O Sócrates não está a ser julgado pelo que fez enquanto PM, nem sequer pelos escândalos que nunca o largaram enquanto se encontrava nestas funções. Está sim a ser julgado (tanto quanto consigo perceber sem exceder o limite de 10 artigos grátis que o caralho do Público me oferece todos os meses) por coisas que se passaram depois. Ou seja, não esperem que venha daqui a catarse colectiva que tanto precisamos, quando finalmente podemos dizer: afinal o gajo era mesmo criminoso e foi por isso que nos enganou. Já agora outro aparte: é na boa dizer que a culpa foi do Sócrates e continuar a ser um bom socialista como eu, porque os gastos do Sócrates tiveram pouco a ver com o estado social e mais a ver com a conta bancária do Jorge Coelho e do gajo que fabricou o Magalhães. Logo estai descansados fofinhos, continua tudo na mesma.

Quarto, teremos obviamente que esperar uns anos para que o mesmo aconteça ao Pedro Passos Coelho e ao Paulo Portas, uma vez que tudo leva a crer que enquanto se mantiverem em funções nem a Tecnoforma, nem a tal fundação para a cooperação, nem os submarinos, serão devidamente investigados. Torna-se claro também que ambos acabarão por ser presos por uma merda qualquer posterior e menos importante, nomeadamente, por montarem bares de alterne ou qualquer coisa do género.

Acho que era isto.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Gosto mesmo do facebook

Aos que me apunhalam pelas costas: Parem com isso que magoa

Gosto muito do facebook

Quanto mais convivo com os animais mais gosto dos seres humanos

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

A natureza das coisas

Como compete ao bom intelectual burguês da esquerda bêbeda, estou a escrever esta coisa num avião, enquanto transito de uma capital regional europeia para outra, com paragem numa capital nacional para mudar de avioneta. Além disso, este texto materializa-se perante os meus olhos (para espanto do meu cérebro exausto que foi obrigado a acordar às 4 da matina para apanhar um caralho dum voo à puta das 6 horas da manhã) numa tablete daquelas novas da Microsoft. Digo isto para impressionar as pessoas com o glamour que cintila que nem brilhantina sobre a minha vida. Além disso sou ateu, só para que saibam.

Isto lembra-me um texto que li há uns bons anos do Júlio Carrapato, o anarquista algarvio e porventura a pessoa mais espectacular de sempre. O Júlio contava que foi convidado, juntamente com outras eminências nacionais, para fazer parte da audiência num programa televisivo em que iam entrevistar o Álvaro Cunhal. O Júlio, como bom anarquista que é, deplora o materialismo histórico com o mesmo vigor com que se maravilha perante as tragédias do capitalismo; e assim como um guerrilheiro afiliado à CNT apontando a sua carabina aos fascistas do partido comunista aquartelados no outro lado das Ramblas, o Júlio preparou-se para arrasar o Cunhal, com quatro (ou cinco, agora não me lembro) questões-ensaio, em que por um lado atacava o marxismo não-reconstruído do dito cujo e por outro desconstruía o mito que se formava em seu redor no pós 25 de Abril. O Júlio, apesar da sua erudição,  ou talvez por causa dela, claramente sofre de uma dissonância cognitiva que lhe impediu de ver que ninguém o queria ali para questionar o quer que fosse, mas apenas para convergir totalmente ou divergir apenas ao de leve com a narrativa oficial que já na altura se desenhava na cabeça dos entrevistadores: as ideias de Cunhal são más, mas há que apreciar a coerência do homem. Ou seja, não lhe deixaram perguntar nada de jeito e a questão truncada que lhe foi permitido fazer foi tratada com derisão pelo Cunhal (derisão… sou mesmo culto).

Mas o que importa não é isto. O Júlio descreveu com pormenor os detalhes da viagem, paga pela RTP, incluindo os croquetes que lhe foram servidos antes do programa para forrar o estômago. Tudo isto é muito anacrónico claro. Quem é que se daria ao trabalho de convidar o anarquista de Loulé hoje em dia, para assistir ao prós e contras por exemplo, e lhe pagaria o jantar? No fim, o Júlio argumenta que não teve vergonha absolutamente nenhuma de aceitar os presentes envenenados do capitalismo. Pelo contrário, a existir um convite futuro, exigiria um hotel melhor e um jantar mais apropriado. O Júlio tem obviamente razão. Essas merdas de forçar a modéstia e a piedade andando descalço (metaforicamente) quando alguém nos oferece uns sapatos de 500Euro é uma ideia de cagalhão. Há que dizer que sim, exigir ainda melhor e no fim não agradecer. Há limites claro, a partir dos quais deixamos de ser apenas um peão que procura aproveitar os confortos da vida pequeno-burguesa e nos tornamos no agente de opressão que impede muitos mais de sequer ter água potável. Admito que no limite isto seja como a arte: o valor está nos olhos do observador. Mas fora desse limite, deverá ser claro quando estais a ser uns filhos-da-puta e quando estais a tentar ser pelo menos pessoas decentes.

Claro que isto tudo serve apenas para me justificar perante os deuses pouco perdulários das pessoas de bem.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

A fúria burguesa


Quando este vídeo saiu não comentei, em parte porque este blog ainda não existia e em parte porque.

O impacto que teve foi o esperado: um tumulto breve, seguido de indiferença. Apesar de tanta distorção e grunhido, no fim o que se ouvia na pacatez deste nosso belo país era o barulho dos grilos, indiferentes à sua falta de consciência de classe. A culpa, claro está, não é dos Mão Morta, mas da falta de mecanismos de difusão e discussão de ideias, que permitam manter em debate público um assunto que não esteja directamente ligado à agenda restrita dos partidos políticos e de meia dúzia de pessoas de bem. Fora das caixas de comentários, pouco existe em Portugal para esse efeito.

(Gosto muito dos Mão Morta. O meu álbum favorito destes animais é o 'Há já muito tempo que nesta latrina o ar se tornou irrespirável'. Comprei-o há mais de uma década e ouvi-o pelo menos umas 277.000 vezes. Isto é um aparte irrelevante para o que quero dizer, mas ponho-o aqui caso queiram ir ouvi-lo.)

O vídeo em si é interessante mas frustrante. Primeiro aquela coisa anacrónica de começar por matar o padre, como se a igreja católica fosse hoje em dia minimamente relevante do ponto de vista político . Depois a linguagem em si, que embora agressiva é ao mesmo tempo conservadora, usando um tom e conteúdo pouco diferentes do que se ouviria nos anos 70 ou 80. Além do mais com aquela veia triunfalista, imaginando uma multidão raivosa que perde o controlo e toma por assalto os centros de poder, o que distancia ainda mais o conteúdo da canção, da vida portuguesa actual (óbvio que não tinha que ser esse o seu objectivo). Mas o mais frustrante é que isto não é uma manifestação desregrada de frustração, com potencial para destabilizar o ambiente. Pelo contrário, é um acto bastante burguês, que permite extravasar num contexto estéril e inconsequente a raiva que sentimos pela situação, sem que daí resulte algo de verdadeiramente perigoso. Apesar de terem sido os intelectuais a escrever a História, e terem como tal mistificado momentos em que eles assumiram protagonismo (como o Maio de 68) as revoluções raramente começaram por aqui. Historicamente a mudança (digo isto sem recolher absolutamente nenhuma informação que o comprove) partiu dos exércitos, dos camponeses esfomeados, dos líderes religiosos, dos analfabetos radicalizados. Não será por causa deste vídeo que haverá tumulto em Portugal.

Só mais uma coisita: até gosto da música, especialmente daquele coro. A minha mãe canta uma coisa semelhante para entreter a minha filha: laaaaaa la, la la laaaa la, la la la laaa la laa, la laaa laa. Fico feliz também que se tenham vestidos todos de preto, como os anarquistas, em vez de vermelho, como os comunistas. Se é para sonhar há que fazê-lo em grande!


sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Temos os que merecemos?

Dizem os parvos armados em espertos que cada país tem os políticos que merece. Mas perdoai-lhes senhor, pois a sua parvoíce impede-os de saber o que dizem.

É óbvio que nenhuma população escolhe os políticos que quer. Através da agregação de vontades individuais que é o voto, as pessoas escolhem quem podem, ou seja quem se apresenta a eleições, sendo que para chegar a esse ponto é preciso passar por uma máquina de triturar vontades cuja lógica tem muito pouco a ver com quem é o melhor para governar. Essa máquina são os partidos, com todas as suas redes de cumplicidade e conflito, e a sua lógica interna é aquela que estrutura qualquer organização: o desejo de sobreviver no mínimo e de crescer no ideal, com o mínimo de instabilidade possível. As pessoas dos partidos, dentro de cujas cabeças se materializa uma determinada cultura que constrange o que vem a seguir, promovem quem lhes garante essa estabilidade e porventura quem lhes permitirá crescer, através da distribuição de cargos melhor remunerados do que os que têm no momento. Isto é normal e passa-se em todo o lado. O importante é que hajam mecanismos de correção, que permitam que quando o interesse egoísta dos que estão dentro fica fora de controlo, haja um processo de renovação. Nas empresas, exceto aquelas protegidas pelo plano tecnológico (lembram-se? Que bonitos foram esses anos, quando nos íamos tornar num país exportador de tecnologia, sustentado por salários médios de pelo menos 10.000 euros), esta coisa acontece através da restruturação, ou no limite, da falência. No sector público acontece, ainda que de forma limitada com as eleições. Mas tem que acontecer acima de tudo com a movimentação sistemática de forças externas aos partidos, que os obrigam ocasionalmente a ter que ouvir um grupo diferente de pessoas e a construir novas coligações de poder, que mudam o quadro de referência dos aparelhos partidários e (com sorte) permite-lhes conceber a ideia de que têm algo a ganhar com o serviço do interesse público. Em Portugal isto não aconteceu, porque só se ouvia até recentemente meia dúzia de pessoas, que nunca mudavam, o que incentivava os partidos a promover quem conhecia bem os ditos cujos. Claro que as merdas estão a mudar, só que em vez de uma restruturação de baixo, que levaria a uma mudança da cultura e lógica internas dos partidos, estamos a assistir a uma restruturação de cima, em que as redes estão a ser reconfiguradas com figuras ainda piores do que antes (vede os filhos de Angola), para que tudo mude podendo ficar ainda pior. Os portugueses não têm os políticos que merecem; têm os políticos que lhes é permitido ter; e são uma merda.

Fantasmas

Quem nos dera ser assombrados pelos economistas mortos do Keynes. Pelo menos haveria alguma sofisticação na forma como se pensam as merdas. É que no nosso caso esvoaçam sobre a economia portuguesa os fantasmas do aspirante a padreco Oliveira Salazar e um fantasma híbrido do Vasco Gonçalves e do François Mitterrand. A direita picha murcha que temos gosta pouco da economia de mercado. Tal como o aspirante a padreco, fala muito dela e inclusive prega a necessidade de garantir a sua autonomia. Mas na prática, quando há que tomar decisões, preocupa-se acima de tudo com a manutenção da oligarquia dominante, não vá a concorrência causar alguma mudança na sociedade portuguesa, o que seria muito aborrecido.

A esquerda picha curta que temos oscila entre uma versão mais social do Estado Novo e uma versão pós-moderna do PREC, com uns pós de primeiros dois anos de governo do Mitterrand (lembro aos filisteus que Mitterrand nacionalizou uma série de coisas em França quando chegou ao poder, mas dois anos depois começou a vender tudo, quando percebeu que a gestão destas empresas pelo sector público estava a facilitar demasiado a sua ambição de dormir com as filhas dos CEOs, o que não lhe agradava, porque nada o excitava tanto como um não que claramente queria dizer sim, ah sim, ele sabia bem o queriam todas essas malandras). Ou seja, a esquerda continua a comer às colheradas cheias esta conversa de merda de manter os centros de decisão em mãos portuguesas, para depois os usar para estimular a inovação, o conhecimento e os empregos do Jorge Coelho. Só que esta conversa, para além de ser contraproducente, porque qualquer animal selvagem percebe que uma empresa protegida nunca será tão inovadora quanto uma que tem que competir, é também producente de um clima de promiscuidade entre meia dúzia de organizações que obviamente põe em causa a implementação de qualquer política séria de esquerda. Mas é preciso ser eu a explicar esta merda que devia ser evidente caralho?

Estes fantasmas têm vindo ao de cima nos últimos anos quando se discutiam as privatizações e agora ainda mais, com histerismo sobrelevado, com a merda da PT. Ora foda-se, a única razão pela qual a PT está quase na falência é exatamente devido à política de proteção dos tais centros de decisão (já agora, para os incautos, reparai que decisão rima com cagalhão), que encorajou a acumulação de tanto poder no BES e noutros sítios mal frequentados. O que é preciso é partir tudo aos bocados, vender e seguir em frente. Mas vender mesmo. Não é vender aos Angolanos, nem aos Chineses, nem ao Paulo de Azevedo (Paulo é um nome bastante menos distintivo que Belmiro, o que prejudica um escritor como eu, que claramente privilegia a brevidade e que como tal preferia poder usar apenas o primeiro nome, o que é impossível com Paulo, devido à falta de distintividade). Acham mesmo que vamos deixar de ter telefones fixos, ou serviço de telemóvel se vendermos isto tudo?

É preciso correr com esta corja, desde os fantasmas medíocres que nos assombram, às pessoas de bem que nos foderam sem misericórdia e reconstruir o que existe com outra base. Existe por aí gente para o fazer, só é preciso uns murros (figurativos claro, que isso de violências parece mal) aqui e ali e chegamos lá.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Vida em geral

A vida é em geral, embora a espaços, por vezes e sem exagerar, interessante. O Pedro Mexia acha que não. Eu compreendo-o, não só porque sou um empático que gosta de empatizar, mas também porque entendo que racionalmente o cinismo é no seu caso inevitável. Ele não precisa que eu lho diga, mas o problema do meu amigo de longa data Pedro Mexia é que ele é um solipsista. A única forma de apreciar aquele conjunto de eventos e procissões a que se convencionou chamar a vida é virar-nos para fora, e deixar que o exterior por vezes nos entretenha. Qualquer pessoa que se vire para dentro não tem outro futuro que não o ensimesmamento e a desistência. Isto porque a merda dos traumas dói mais, proporcionalmente falando, do que o prazer derivado das alegrias. Isto é um truísmo, bem sei, mas tal como o Pedro Mexia, com quem nunca convivi mas por quem tenho um apreço sem fim, também tenho tendência para o desencantamento. Tal como ele, se o entendo correctamente, esse desencantamento, ainda que estimulado por coisas externas, dirige-se a mim. As coisas externas podem ser más, terríveis até, mas nada me desilude mais do que a minha própria cabeça, os meus vícios, os meus falhanços. O desencantamento com o mundo é antes de mais nada um desencantamento comigo, por não ser capaz de me adaptar melhor às sua formas e tirar partido de tudo o que poderia conseguir com a extroversão. Só que eu, ao contrário do Pedro Mexia, com quem falei uma vez e por quem tenho pouco apreço, tenho dentro de mim uma résquia de encantamento, talvez porque tenho uma catraia lá em casa que me obriga a investir emocionalmente no futuro, o que me leva ocasionalmente a sair de dentro da minha cabeça e a ver a vida como ela é: nem boa nem má, mas com potencial para qualquer coisa.

Escrevi tudo isto apenas porque queria partilhar esta imagem que roubei do blog dele:


segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Dá-lhes Alberto

Este senhor falou bem das coisas de que já eu tinha falado antes, o que justifica o grande apreço que tenho por mim: http://www.publico.pt/sociedade/noticia/sexo-no-supremo-tribunal-administrativo-1673478

O que eu não admito ao Alberto é que ele fale com mais propriedade do que eu, só porque ele percebe do assunto e eu não. Qualquer pessoa de bem aceitará sem reservas que perceber de um assunto é um detalhe pouco importante, quando o mais relevante é obviamente a fúria com que nos expressamos.

sábado, 18 de outubro de 2014

O sexo não importa

Pode ter relações sexuais, mas com muita dificuldade”, refere a decisão de primeira instância, que tinha fixado uma indemnização de 172 mil euros, para compensar  o facto de a doente ter ainda ficado com dificuldades em sentar-se e andar e passado a sofrer de incontinência urinária e fecal. Ficou ainda provado que a mulher, que é casada, passou a sofrer de “perda de sensibilidade e inchaço na zona vaginal”, além de sentir dores e mau estar constante." Público

A malta parece que se espantou com esta notícia e foram perguntar a especialistas se isto significa que os juízes são conservadores. Oh caralho, claro que são: fora de meia dúzia de círculos boémios, tanto os da alta-cultura como os da plebe, Portugal é um país conservador e estes juízes, assumindo que não fizeram parte dos Faíscas nos anos 70, nem frequentaram o Frágil nos anos 80, também serão. O problema é que esta fixação com o que é óbvio ofusca o essencial: o conservadorismo destes tipos e tipa (havia uma juíza pelo meio e não quero ser sexista e aceitar que o masculino inclui ambos os géneros, o que embora seja normalmente justificado como sendo uma tradição linguística sem significado, deriva obviamente de um quadro abstracto-mental sexista, no âmbito do qual se achou normal decidir que o masculino incluiria ambos os sexos. Já agora, abstracto-mental foi um conceito que aprendi no primeiro ano de Sociologia e quase que ia chumbando uma cadeira porque não me lembrei de usar estas palavras, abstracto-mental, durante a discussão de um trabalho de grupo. Por isso, agora, uso-as sempre que posso. Mas perdoem-me a divagação) assume uma outra dimensão, bastante mais merdosa:

"Operada a um problema ginecológico trivial, a empregada doméstica ficou com uma incapacidade permanente de 73%, por lhe ter sido parcialmente lesado, durante a operação, o nervo pudendo."

Nesta curta frase qual é o elemento a reter? Erraram todos os adivinhadores, arriscarei dizer, pois focaram-se no resultado da operação. O que importa é que se trata de uma empregada doméstica e portanto de uma mulher rasca, pobre, provavelmente feia, que nem deveria ter sexo pois jamais o fará da forma romântica e esteticamente aprazível com que o descreve aquele escritor de cujo nome agora não me recordo. Até porque a questão de não poder ter sexo é apenas uma parte do que lhe aconteceu. Calculo que os juízes também tenham escrito: a partir dos 50 anos cagar-se e mijar-se sem controlo não tem a mesma importância que aos 20, quando convém estar limpinha para poder praticar muito sexo. Estes merdas destes juízes tomaram esta decisão de merda não porque o sexo seja mais ou menos importante, mas porque a pessoa em si não é importante, enquanto os senhores doutores sim, e aqueles 60 000 euros que o hospital vai poupar dão jeito para ir às Bermudas recuperar do stress de ter que lidar com este julgamento.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Orçamentes!

Este orçamento, no seguimento dos anteriores, acaricia-me as partes de baixo. Passo a explicar.

Já lá vão uns quantos anos de austeridade, liderados em parte, diligentemente e austeramente, pelo Pedro PC, que mais do que um amigo, um conselheiro ou um mentor é um grande ladrão. Peço desde já desculpa pela linguagem rude: talvez resulte de eu ter emprego e um salário decentes, o que me permite evitar o emasculamento total. Nestes supinos anos de austeridade tudo o que era necessário fazer não se fez, tendo-se feito apenas aquilo que foi obrigatório fazer. Por exemplo, caíram os bancos de regime, mas apenas porque alguém se lembrou de abrir as folhas de Excel que os CEOs e os COOs e os CFOs produzem todos os anos, tendo-se apercebido que faltava lá dinheiro! Assombrados pelo facto de que afinal as forças de mercado não foram suficientes para convencer os bandidos à frente dos bancos de que era melhor serem honestos, os supervisores mandaram um email aos PMs (a este e ao anterior). Estes por sua vez acharam que era interessante aproveitar esta ocasião para pôr à frente dos bancos amigos da política, numa tentativa mal compreendida de incentivar um movimento nacional em direcção à democracia radical directa. Por outro lado, as restantes empresas do regime em vez de serem partidas aos bocados, vendidas a retalho e forçadas a competir com outras organizações, foram renacionalizadas, só que desta vez pela China e por Angola. Em relação aos primeiros até acho bem, porque antecipa por uns anos o momento em que a China vai tomar conta disto tudo e com sorte faz-nos cair nas boas graças dos tipos. Quando eles vierem por aí para nos invadir poderemos dizer: parem, isto já é tudo vosso, arroz chao-chao, xiexie.

Leva-me isto à conclusão de que aquilo que aconteceu nos últimos anos em Portugal, desde a austeridade que levou ao aumento da dívida, às privatizações com renacionalizações, aos disparates do Crato, ao desprezo com que o PP Coelho e outros compadres de governo falam de Portugal, ao fato de que o Jorge Coelho existe, obedeceu não a um projeto neoliberal de subjugação das massas, nem a um projeto reacionário de vingança pelos assomos de lirismo mal direcionados do 25 de Abril, mas sim a um grande vão-se foder. É isso mesmo. Eles não sabem o que andam a fazer, mas vão continuar a fazê-lo e quando questionados dirão, ainda que por palavras mansas e tecnocráticas: vão-se foder! O Paulo Portas bem pode rabujar de vez em quando e pedir ao PPC que lhe dê algo de que falar na próxima campanha, mas calculo que a resposta não varie muito daquela que todos nós temos recebido nos últimos anos, incluindo do próprio Paulo Portas. Ora quando me fodem normalmente gosto que me afaguem os tomates, o que explica o primeiro parágrafo.