sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

O que são as pessoas?

O Ricardo Salgado é, tanto quanto consigo perceber, uma pessoa. Parece-me óbvio à vista desarmada que ele tem dois olhos, um nariz, uma boca e duas orelhas, elementos que embora não sejam absolutamente indispensáveis, ajudam na caracterização de um elemento como pertencendo ao reino animal e concretamente ao tipo hominídeo. Além disso presumo que o Ricardo Salgado seja também possuidor de dois mamilos, um umbigo, uma pilinha e pelo menos um par de joelhos.

Só que para lá desta caracterização bastante superficial tenho dificuldade em entender o que é o Ricardo Salgado exactamente. Nomeadamente, pergunto-me como é que um gajo passa de rei do universo para rei dos queixinhas. Já sei o que dirão os caros leitores, inteligentes e simpáticos que sois: é tudo a mesma coisa, pois o ego que leva um tipo a querer dominar as merdas tão completamente é o mesmo que o leva a negar que tenha feito merda. Mas o que espanta é a leveza da sua defesa: quem eu? eu não fiz nada de mal, nem sequer tirei as mãos dos bolsos, lixaram-me foi o que foi - Que resposta de labrego, caralho!

O Ricardo Salgado, se fosse com propriedade e solidez o dono disto tudo, como diziam que era, reagia com fúria. Ao ver este gajo caído desta forma, a choramingar para proteger o que ele pensa ser a sua honra, concluo que ele chegou ao topo da pirâmide de poder portuguesa por acaso e não por dedicação. Assim como o Boavista ganhou o campeonato aqui há uns anos porque a competição estava fraquinha (o que levou as pessoas a caracterizar o Jaime Pacheco como um treinador de qualidade, durante esses anos terríveis aos quais nos referimos hoje em dia como ‘os anos em que o Jaime Pacheco foi considerado um treinador de qualidade’, apenas secundados no grau de miséria colectiva que inspiraram pelos anos em que o Paulo Portas existiu) o Ricardo Salgado ganhou a competição na qual ele participava devido à frouxidão da oposição (a aliteração é puramente acidental, juro). Eu sei que é fácil pontapear um cadáver, atividade à qual me estou a entregar com um regozijo bastante visível. Mas tendo em conta que o Pedro Passos Coelho, essa besta inqualificável, sai disto tudo com ar de vencedor, andando por aí a dizer que os donos do país estão a desaparecer, mostra que o Ricardo Salgado não pode ser um gajo inteligente.

Quem é então o Ricardo Salgado? Isto é tudo muito óbvio para o resto da sociedade portuguesa, mas as coisas chegam-me devagar e violentamente, logo perdoem-me por perceber apenas agora o que era óbvio para todos vós: o Ricardo Salgado é o peido final do Estado Novo, um gajo que permaneceu no topo porque não havia mais ninguém para gerir bancos em Portugal há uns anitos atrás; um gajo que nunca soube o que fazer quando lhe deram uma economia aberta, cheia de possibilidades para mexer o dinheiro de um lado para o outro, numa ilusão de trocas financeiras que geram dinheiro sabe-se lá como. O Ricardo Salgado ficou deslumbrado com isto tudo e quando pessoas mais espertas do que ele (como os gajos que mandam em Angola) disseram-lhe para fazer isto e aquilo, ele fê-lo. Apoiado no poder que tinha (porque tinha poder, claro) juntamente com o poder que pensava ter, fugiu para a frente, mas sempre de forma muito paroquial, muito Salazarenta, muito labrega, apoiando-se nas empresas do regime, sem nunca entrar no jogo onde verdadeiramente se faz dinheiro, aquele em que brincam os meninos grandes da City e de Wall Street. Se ele fosse um gajo desses não estava para aí a choramingar: dizia que fez o que tinha que fazer e que se alguém tem problemas que se vá foder. Vejam onde estão os capitães da indústria financeira americana e britânica e onde está o Ricardo Salgado, comparem, e digam-me lá que este gajo não era um fracote.