terça-feira, 28 de abril de 2015

Era mais ou menos assim

Era mais ou menos assim na semana passada. Esta foto não é minha:


Leiam esta entrevista, identifiquem as suas falhas estruturais, e reflictam sobre o que isso significa em relação ao futuro da literatura, da economia e da política portuguesas.

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Tomates secos ao sol com queijo

A merda dos almoços na merda destes países são uma merda. Só que a minha apreciação da comida e as minhas expectativas estão tão acostumadas a este ambiente que dou comigo a apreciar a merda das sandes que nos deram para almoço, regadas com um belo copito de água. Pelo menos o bolo de chocolate estava macio e bom embora o café, para não destoar, fosse um cagalhão.

Agora quero dormir a sesta mas não posso, porque a conversa vai continuar. Tudo isto porque ontem em vez de dormir pus-me a beber cerveja e a ver episódios do Better Call Saul até às 2 da manhã - logo não dormi bem, nem o suficiente, logo hoje não me apetece estar aqui, logo as centenas de euros gastos a trazer-me aqui e a alojar-me foram mal gastos. Tudo isto, já agora, é dinheiro da UE, logo pago com os vossos impostos. Ontem à noite, quando estava a comer escalopes e a beber vinho num restaurante caro pensei em vocês, meus pichas, que sustentam os meus vícios. Obrigado.

Só mais uns detalhe:

1. Ontem à noite a minha estadia no hotel custou mais de 300 euros, porque Bruxelas está cheia devido a um congresso sobre marisco (I kid you not my little bitches), que aparentemente é o maior evento do ano em Bruxelas, em termos do número de pessoas que aqui se deslocam para falar sobre o passado, presente e futuro do marisco, um assunto multi-dimensional, multi-escalar e transdisciplinar. Eu não estou em Bruxelas para participar neste congresso.

2. No caminho entre o hotel e o sítio miserável onde decorre o seminário que actualmente me acolhe, vi vários edifícios guardados por militares com metralhadora. A ver se me explico bem: um gajo vai a andar pela rua,  a apreciar o rabo saltitão das belgas e das várias expatriadas que por aqui vivem, vira a esquina, e no passeio estão dois marmanjos fardados, com uma arma gigante nas mãos, de cara sorridente e a dizer olá aos transeuntes. Outra vez, I kid you not. Tudo isto, em resultado, segundo me dizem, daquela merda que se passou no Charile Hebdo e das suas várias repercussões.

3. Fora do edifício onde estou uma parte da cidade está fechada porque um grupo de pessoas decidiu reunir-se aqui hoje para discutir de emergência a tragédia no mediterrâneo. Estes filhos-da-puta rodeiam-se de polícias e põem barreiras na rua para discutir o que fazer com os pobres diabos que querem ter uma vida decente. Não digo mais nada.

.....

O Johan devia ter falado 10 minutos, falou 25 e senti-me como se tivesse falado durante uma vida inteira. O mundo acabou e voltou a começar enquanto este filho-da-puta nos aborrecia a todos (embora finjamos todos que foi muito interessante).

- Johan, Johan, Johan, Johan!

- O que foi marques?

- Vai pró caralho meu cabrão!

Agora é a vez do Luke - tem cara de pessoa doente mas por outro lado um certo carisma, mais baseado na simpatia que na força da sua personalidade. Vamos lá ouvi-lo

U speak good?

Uma sala cheia de gente a falar em inglês, sem que essa seja a sua língua materna, gera muita conversa difícil de entender. Um gajo tem que arrancar do que eles dizem algum significado e fingir que o que entendemos foi o que eles queriam dizer.

Agora fala o Johan da Comissão Europeia, que tem o carisma de uma vassoura. Entre os ahhh, ehhh, uhhhh, aquele sotaque de merda e o meu desinteresse pelo que ele diz, está quase na altura de me atirar pela janela. O gajo agora pôs-se a falar do Don Quixote, a ver se isto anima; mas não, continua aborrecido.

Já agora, não entendo esta narrativa de que o Don Quixote era um sonhador e o Sancho Pança o pragmático cock-blocker, o que só faz sentido no contexto da dominação burguesa do pensamento, que celebra o lirismo e a contemplação nos ricos e condena os desvarios e a preguiça nos pobres. O Quixote sofria de um desequilíbrio químico geralmente designado como doença mental que o coitado do Pança tinha que aturar devido ao seu estado proletário de não ser dono de um meio de produção. Se o Pança não controlasse o outro mais tarde ou mais cedo levava nos cornos, o que se bem me lembro chegou a acontecer, provando que eu tenho razão e só não o vê quem é estúpido.

O Johan está a comparar a Dinamarca com a Espanha - no primeiro há confiança no segundo não e não há nada que possamos fazer em relação a isto. Vai pró caralho Johan!

Ui, agora o powerpoint tem um questão: Who? e a resposta: Top level politicians, porque it's about ownership e claro especialistas de qualidade elevada - ah sim Johan, és mesmo um gajo interessante, cheio de ideias radicais.

- Oh Johan!

- Sim marques?

- Vai pró caralho Johan

Sou quem sou

Sou um rebelde do caralho! Estou num seminário em Bruxelas, com vista para o mastodonte onde oficialmente trabalham os comissários europeus, quando não estão nas suas voltinhas pela Europa, e em vez de ouvir as merdas que se vão dizendo estou a escrever aqui. Por exemplo, agora posso dizer:

- a gaja que está a falar é uma badalhoca! - e ela, pobre ignorante, nem faz ideia. Se calhar pensa que estou a tirar notas do que ela disse. Coitadinha.

Entretanto um gajo da OCDE esteve a dizer-nos que as avaliações que eles fazem são blah blah blah e por isso huh huh blargh e o que leva a que ish ush esh.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

De volta com sede de vingança

A Páscoa ocupou-me, mas não me derrotou. Ainda um dia gostava de saber porque me consomem tanto estas celebrações, apesar do meu enorme e exemplarmente simbólico ateismo. Mas pronto, não sou o único a inquietar-se com a natureza destas coisas:


Entretanto fiquem a saber que a Hilary Mantel é uma escritora excelente. Tendo tomado conhecimento da sua existência através dos conselhos do sempre enorme maradona, tenho vindo devagar a ler as coisas que ela escreve. Estou agora à briga com esta coisa, um livro longo, por vezes confuso, escrito quando ela era demasiado imatura para escrever como escreve hoje, mas que demonstra pela ambição e entrega que esta gaja já era muito boa antes de ser excelente.