quinta-feira, 23 de abril de 2015

Tomates secos ao sol com queijo

A merda dos almoços na merda destes países são uma merda. Só que a minha apreciação da comida e as minhas expectativas estão tão acostumadas a este ambiente que dou comigo a apreciar a merda das sandes que nos deram para almoço, regadas com um belo copito de água. Pelo menos o bolo de chocolate estava macio e bom embora o café, para não destoar, fosse um cagalhão.

Agora quero dormir a sesta mas não posso, porque a conversa vai continuar. Tudo isto porque ontem em vez de dormir pus-me a beber cerveja e a ver episódios do Better Call Saul até às 2 da manhã - logo não dormi bem, nem o suficiente, logo hoje não me apetece estar aqui, logo as centenas de euros gastos a trazer-me aqui e a alojar-me foram mal gastos. Tudo isto, já agora, é dinheiro da UE, logo pago com os vossos impostos. Ontem à noite, quando estava a comer escalopes e a beber vinho num restaurante caro pensei em vocês, meus pichas, que sustentam os meus vícios. Obrigado.

Só mais uns detalhe:

1. Ontem à noite a minha estadia no hotel custou mais de 300 euros, porque Bruxelas está cheia devido a um congresso sobre marisco (I kid you not my little bitches), que aparentemente é o maior evento do ano em Bruxelas, em termos do número de pessoas que aqui se deslocam para falar sobre o passado, presente e futuro do marisco, um assunto multi-dimensional, multi-escalar e transdisciplinar. Eu não estou em Bruxelas para participar neste congresso.

2. No caminho entre o hotel e o sítio miserável onde decorre o seminário que actualmente me acolhe, vi vários edifícios guardados por militares com metralhadora. A ver se me explico bem: um gajo vai a andar pela rua,  a apreciar o rabo saltitão das belgas e das várias expatriadas que por aqui vivem, vira a esquina, e no passeio estão dois marmanjos fardados, com uma arma gigante nas mãos, de cara sorridente e a dizer olá aos transeuntes. Outra vez, I kid you not. Tudo isto, em resultado, segundo me dizem, daquela merda que se passou no Charile Hebdo e das suas várias repercussões.

3. Fora do edifício onde estou uma parte da cidade está fechada porque um grupo de pessoas decidiu reunir-se aqui hoje para discutir de emergência a tragédia no mediterrâneo. Estes filhos-da-puta rodeiam-se de polícias e põem barreiras na rua para discutir o que fazer com os pobres diabos que querem ter uma vida decente. Não digo mais nada.