A esquerda picha curta que temos oscila entre uma versão
mais social do Estado Novo e uma versão pós-moderna do PREC, com uns pós de
primeiros dois anos de governo do Mitterrand (lembro aos filisteus que
Mitterrand nacionalizou uma série de coisas em França quando chegou ao poder,
mas dois anos depois começou a vender tudo, quando percebeu que a gestão destas
empresas pelo sector público estava a facilitar demasiado a sua ambição de
dormir com as filhas dos CEOs, o que não lhe agradava, porque nada o excitava
tanto como um não que claramente queria dizer sim, ah sim, ele sabia bem o queriam
todas essas malandras). Ou seja, a esquerda continua a comer às colheradas
cheias esta conversa de merda de manter os centros de decisão em mãos
portuguesas, para depois os usar para estimular a inovação, o conhecimento e os
empregos do Jorge Coelho. Só que esta conversa, para além de ser
contraproducente, porque qualquer animal selvagem percebe que uma empresa
protegida nunca será tão inovadora quanto uma que tem que competir, é também
producente de um clima de promiscuidade entre meia dúzia de organizações que
obviamente põe em causa a implementação de qualquer política séria de esquerda.
Mas é preciso ser eu a explicar esta merda que devia ser evidente caralho?
Estes fantasmas têm vindo ao de cima nos últimos anos quando
se discutiam as privatizações e agora ainda mais, com histerismo sobrelevado,
com a merda da PT. Ora foda-se, a única razão pela qual a PT está quase na
falência é exatamente devido à política de proteção dos tais centros de decisão
(já agora, para os incautos, reparai que decisão rima com cagalhão), que
encorajou a acumulação de tanto poder no BES e noutros sítios mal frequentados.
O que é preciso é partir tudo aos bocados, vender e seguir em frente. Mas
vender mesmo. Não é vender aos Angolanos, nem aos Chineses, nem ao Paulo de
Azevedo (Paulo é um nome bastante menos distintivo que Belmiro, o que prejudica
um escritor como eu, que claramente privilegia a brevidade e que como tal
preferia poder usar apenas o primeiro nome, o que é impossível com Paulo,
devido à falta de distintividade). Acham mesmo que vamos deixar de ter
telefones fixos, ou serviço de telemóvel se vendermos isto tudo?
É preciso correr com esta corja, desde os fantasmas
medíocres que nos assombram, às pessoas de bem que nos foderam sem misericórdia
e reconstruir o que existe com outra base. Existe por aí gente para o fazer, só
é preciso uns murros (figurativos claro, que isso de violências parece mal)
aqui e ali e chegamos lá.