terça-feira, 21 de outubro de 2014

Vida em geral

A vida é em geral, embora a espaços, por vezes e sem exagerar, interessante. O Pedro Mexia acha que não. Eu compreendo-o, não só porque sou um empático que gosta de empatizar, mas também porque entendo que racionalmente o cinismo é no seu caso inevitável. Ele não precisa que eu lho diga, mas o problema do meu amigo de longa data Pedro Mexia é que ele é um solipsista. A única forma de apreciar aquele conjunto de eventos e procissões a que se convencionou chamar a vida é virar-nos para fora, e deixar que o exterior por vezes nos entretenha. Qualquer pessoa que se vire para dentro não tem outro futuro que não o ensimesmamento e a desistência. Isto porque a merda dos traumas dói mais, proporcionalmente falando, do que o prazer derivado das alegrias. Isto é um truísmo, bem sei, mas tal como o Pedro Mexia, com quem nunca convivi mas por quem tenho um apreço sem fim, também tenho tendência para o desencantamento. Tal como ele, se o entendo correctamente, esse desencantamento, ainda que estimulado por coisas externas, dirige-se a mim. As coisas externas podem ser más, terríveis até, mas nada me desilude mais do que a minha própria cabeça, os meus vícios, os meus falhanços. O desencantamento com o mundo é antes de mais nada um desencantamento comigo, por não ser capaz de me adaptar melhor às sua formas e tirar partido de tudo o que poderia conseguir com a extroversão. Só que eu, ao contrário do Pedro Mexia, com quem falei uma vez e por quem tenho pouco apreço, tenho dentro de mim uma résquia de encantamento, talvez porque tenho uma catraia lá em casa que me obriga a investir emocionalmente no futuro, o que me leva ocasionalmente a sair de dentro da minha cabeça e a ver a vida como ela é: nem boa nem má, mas com potencial para qualquer coisa.

Escrevi tudo isto apenas porque queria partilhar esta imagem que roubei do blog dele: