quarta-feira, 3 de junho de 2015

Não podemos

Perguntam-se os cidadãos portugueses recorrentemente se poderá haver um Podemos em Portugal. Poder pode, mas haver não haverá (pelo menos para já). Os partidos e independentes que surgiram nos últimos anos, e penso essencialmente no Livre, no Tempo de Avançar e no Sampaio da Nóvoa, não têm gente com desejo, ou estaleca, ou talento, ou carisma, ou o je ne sais quois de pas de faire foutre, para fazer o que o Podemos ou o Syriza fizeram nos respectivos países onde existem: ir ao povo e fazer as pessoas acreditar que podem acabar com o enrabamento colectivo a que nos submeteram nos últimos anos. Enquanto o Podemos fala de acabar com as castas e com a corrupção e o Syriza prometeu devolver a dignidade aos Gregos (não sei como os filhos-da-puta que gerem a Troika e instituições afim podem continuar a exigir mais miséria e humilhação para os gregos como se nada fosse) em Portugal fala-se de referendar os tratados europeus:

http://www.publico.pt/politica/noticia/livretempo-de-avancar-quer-referendar-tratados-da-ue-e-regionalizar-com-eleicao-directa-1697501

e promete-se que não se fará da omissão um estilo:

http://www.publico.pt/politica/noticia/sampaio-da-novoa-promete-que-nao-fara-da-omissao-um-estilo-da-ausencia-um-metodo-do-silencio-um-resguardo-1696864

caralhos ma fodam se esta gente não está tão desligada da vida dos portugueses como o Passos Coelho. Estes totós, com o seu esquerdismo egocêntrico e académico (gostaria de resgatar a palavra intelectual para coisas positivas, embora saiba que isso é uma batalha perdida, logo vou tentar evitar usá-la), estão-se pouco cagando para os portugueses, porque se não fosse esse o caso já se tinham posto a palmilhar o país para falar com desempregados, com pais cujos filhos tiveram que emigrar, com famílias que perderam a casa, com os milhares que vivem com salários de merda ou sub-empregados, a criar um verdadeiro movimento, que correspondesse às necessidades deste país maravilhoso mas tão mal tratado, com políticos muito piores do que aqueles que merece, para devolver um pouco de amor-próprio às suas gentes. Daqui não nascerá nenhum Podemos nem nenhum Syriza e ficamos pior por isso.