quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Sempre

Estamos todos fundamentalmente errados se pensamos que valemos a ponta de um corno que seja de um pintelho de um átomo neste universo. Somos poeira que temporariamente se agregou em torno de um monte de ossos de forma a sustentar um cérebro com uma característica imensa e extraordinária, a  consciência. Quando morrermos ninguém se vai lembrar de nós e mesmo que se lembrem que importa essa merda pequeno-burguesa de querer ser lembrado, minhas lambisgóias escavacadas mal-cheirosas? Se voltaremos um dia a ser poeira, que os cães vão pisar e em cima da qual as pessoas vão mijar e cagar, que importa se a nossa foto ocasionalmente aparece nos jornais? Darão os nossos grãos de areia saltinhos de contentes ao aperceber-se que o corpo que previamente compunham continua a ser referido nos jornais e revistas científicas? Claro que não caralho. O mundo artístico e científico está cheio de misticismos de merda, como a ideia de que ser lembrado é atingir a imortalidade. Ai é minhas putas? Será o Einstein imortal ou apenas uma pessoa que tal como as outras morreu e agora já não está cá? O Einstein pode beber, foder, comer, embebedar-se, deitar-se à sombra a dormir a sesta num dia de calor? Não pode, e de pouco lhe serve que seja lembrado, pois a vida, merdosa que é, vale é por estas coisas.

É por isso que encorajo todos a trabalhar menos, a passar mais tempo com a família, a ver os amigos com mais frequência, a beber e comer coisas boas, a ir à praia ou à montanha ou ao rio ou onde quer que seja que vos faça felizes, a ler livros, ou jogar à bola, a correr, a ir a exposições de pintura contemporânea ou ao cinema e a viver onde vos sintam bem. Eu passei os últimos anos da minha vida a buscar o fantasma da realização profissional e digo-vos que não vale a pena. Estou triste, cansado, tenho saudades dos meus pais, do meu irmão e sobrinhos, dos meus amigos com quem cresci e do meu país (sim essa merda existe), tenho saudades do sol, da cerveja e da comida e que tenho para mostrar em troca de ter deixado tudo isto para trás? Algumas merdas, mas que de nada valem na verdade, pois falta muito do que é essencial.

Voltem para casa, abracem as pessoas que vos amam e sejam felizes. Eu estou a trabalhar para conseguir-lo e deixar para trás todas estas ambições vazias a que me dediquei nos últimos 10 anos. Quando uso o verbo trabalhar é com intenção: há que esforçar-se para reconverter a vida e lembrarmo-nos do que é essencial.