segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Isto cheira bem amigos

Houve um cheiro a triunfalismo no ar, entre os paizinhos austeros, depois do acordo com a Grécia na sexta-feira. A narrativa é que tinham ido todos para casa contemplar os bustos do Adam Smith que adornam as suas secretárias e beber brandy enquanto se congratulavam com o enrabamento colectivo ao povo grego. Muitos jornalistas, como os perritos do pavlov, limitaram-se a debitar cá para fora que assim tinha sido. Só que desde o início se ouviram uns gemidos que indicaram que isto não era bem assim. Especialmente a oposição de Portugal e de Espanha, que deu logo a entender que as coisas correram melhor à Grécia do que parecia. Que melhor indicador pode haver, que ter os maiores filhos-da-puta do continente europeu a opor-se a um acordo?

O que eu disse aqui há uns posts atrás foi que qualquer mudança boa teria que ocorrer devagar e na continuidade, caso contrário a Grécia tornar-se-ia na Venezuela da Europa. O Syriza tinha portanto que evitar o voluntarismo estapafúrdio dos que estão à sua esquerda (voluntarismo expresso por mim no post anterior, provando uma vez mais que os gregos tomaram a decisão correcta ao não me nomear para ministro das finanças) e a humilhação desejada pelos paizinhos austeros. Era um carreirinho apertado, que eles conseguiram navegar. Este artigo, de um insider que ao mesmo tempo é um outsider, diz isto mesmo. O Syriza conseguiu evitar um aprofundamento da austeridade, que seria necessário para cumprir o tal alvo dos 4.5% de superavit nas contas primárias. Conseguiram travar as privatizações sanguessugas que estavam planeadas. E conseguiram tempo para apresentar um documento que ofereça alternativas. Isto era o que as pessoas sérias (como eu) queriam. O contexto moveu-se um milímetro na direcção correcta e daqui para diante, se os gregos persistirem e forem acompanhados por mudanças positivas em Espanha e Portugal, terão sido eles a iniciar o processo que nos devolveu um bocadinho de dignidade.