terça-feira, 10 de novembro de 2015

é bonito

Gosto muito do meu país (sim essa merda existe, quantas vezes tenho que repetir isto caralho?). Este meu gosto deriva de preferências individuais - pela minha família, os meus amigos, os meus hábitos, o meu passado, a minha língua maternal - e tem pouco a ver com questões colectivas - as características do país em si - mas isso pouco importa. Lá porque as coisas são socialmente construídas e levam-nos a desenvolver um quadro abstracto-mental que seria significativamente diferente se fossemos produto de outras condições, isso não significa que não sejam importantes. Para além do que herdamos biologicamente, e a biologia determina muito pouco meus amigos, tudo o que temos é socialmente construído - ou melhor, é construído através da interacção entre o indivíduo e o colectivo;  o facto de tudo ser socialmente construído significa que todas as instituições (formais e informais, generalistas e individuais) são relativas ao contexto que as produz, mas daí não resulta que sejam irrelevantes. A democracia, os direitos humanos, a igualdade perante e lei, etc, são tudo instituições relativas, recentes, aplicadas apenas num número limitado de contextos e mesmo nesses contextos aplicadas de forma desigual. Mas não é obviamente irrelevante que elas sejam aplicadas ou não - se acham que sim sugiro que venham aqui ter comigo para que vos acorrente na cave e vos espanque diariamente até que se esvaiam em sangue e pouco antes de morrerem perguntar-vos-ei se continuam a achar que o direito de todos à dignidade humana independemente da sua condição social é irrelevante (ainda que seja, repito, relativo, pois na história da humanidade foram mais os momentos e contextos em que este direito foi aplicado de forma restritiva).

Tudo isto para dizer que a imagem em cima quase me faz chorar. Faz-me lembrar o meu país, que apesar de espectacular é também sujo, ignorante e atrasado. Portugal é uma merda mas também é muito bom, tal como qualquer outro país. Portugal não significa nada, pois poderíamos muito bem ser todos Espanhós, ou Italianos, ou Franceses, ou Ingleses, ou Alemães, se a história tivesse tomado um rumo apenas ligeiramente diferente. Mas como não o somos, somos Portugueses, e isso importa caralho.