quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Ranking

A minha palavra inglesa favorita é discombobulated (não é serendipity, isso é a que todos escolhem meus panascas). A primeira vez que a li foi num livro do Paul Auster, cujo título não me recordo. Mas se a memória me ajuda foi naquele em que um gajo tem um acidente e depois enquanto recupera escreve nuns cadernos portugueses azuis. Descobri nesse livro que existem cadernos azuis específicos de Portugal. É uma palavra redonda, que enrola a língua e expressa precisamente aquilo a que se refere: a sensação de estar desarticulado, solto nos eixos, incapaz motricialmente.


A palavra que mais me fascina na língua inglesa é yield, porque é uma palavra que não parece inglesa e tem uma série de significados totalmente desajustados. A primeira vez que a vi foi num dos álbuns dos Pearl Jam, já agora. Só uns anos mais tarde comecei a perceber o que significava. Pode significar o total de produção numa entidade económica (yield numa fábrica ou numa propriedade agrícola), pode significar ceder espaço ou poder (yield no tráfico, ou seja dar passagem alguém, ou yield à vontade de certa pessoa), mas pode também, paradoxalmente meus cabrões, sim paradoxalmente, significar o exercício do poder (ele yielded considerável poder sobre um país),  ou o manejar de um objecto, especialmente (creio eu) de forma contundente (yield uma espada ou uma faca).


A palavra mais desadequada ao seu significado é perfunctory, que a mim me sugere o acto de perfurar ou penetrar, logo, pelo menos em determinados contextos, sugere o acto de provocar dor ou desconforto, embora admita que esta interpretação seja influenciada pelo meu amor patriótico pela língua Portuguesa, onde se parece com perfurar. Em inglês significa superficial ou algo feito de forma ligeira e/ou com pouco interesse. Parece-me uma parvoíce este significado para esta palavra e quem discorda é parvo.


A palavra mais perfeita da língua inglesa, o que entenderão é diferente de ser a minha palavra preferida, pois a perfeição é sobremaneira irritante e raramente inspira devoção, senda esta última dedicada às coisas ou pessoas imperfeitas (e por isso humanas) que procuram de forma estrambelhada superar-se e acabam por, nesse processo, inspirar-nos, é facetious. Refere-se ao acto de brincar com coisas sérias, o que em Português soa horrível, pois se há coisa que soçobra em Portugal, infelizmente, e apesar do maravilhosismo deste nosso país, é a seriedade enjoada e paternalista das pessoas-de-bem. Mas em Inglês soa bem, porque os anglo-saxões, já diz o cliché, gostam de brincar com coisas sérias, especialmente consigo próprios. Logo neste contexto cultural e linguístico, ser facetious é ser anti-racional, pois trata-se não tanto de desprezar um tema sério (o que deverá sempre fazer-se, sempre que possível) mas sim o de deprezar um debate sério sobre qualquer tema importante. Os debates sérios são necessários e a única arma que temos contra a ironia e cinismo da pós-modernidade, que gera apatia e o espírito blasé previsto pelo Simmel no virar do século 19 e que nos vai matar a todos.