terça-feira, 13 de janeiro de 2015

A vertigem não vertiginosa


Bom, um gajo destrai-se e acontece um montão de merdas. Vamos lá a classificar tudo isto de forma objectiva e atemporal: 

Na semana passada uns tipos acharam que seria de bom gosto matar pessoas em Paris. Depois veio a merda do costume, os defensores corajosos da liberdade de expressão (meu Deus, quanta coragem existe neste mundo, somos mesmo homens e mulheres com h e m grande), os que acham que a culpa é do Islão, que a culpa não é do Islão, que a culpa é do Ocidente, que sim senhora é feio matar mas também é feio gozar com os outros e por fim aqueles que não pensam nada mas gostam sempre de descontruir, para demonstrar que apoiar o Charlie é bom mas mau, porque o Charlie não era quem pensámos que era, mas sim outra coisa, logo somos todos sexistas-racistas-islamofobos-omnívoros. Esqueceram-se todos que a culpa é do Obama, claro.

Mas agora vou eu atirar os meus dois cêntimos: não sou Charlie, não porque tenha aversão ao periódico em questão ou à mensagem que pretendiam passar, até porque isso não interessa para nada. Não sou Charlie porque até hoje nunca na tive na situação daqueles indivíduos, que após terem sido atacados e ameaçados continuaram a desenhar até serem executados. Gostava de pensar que se estivesse na situação deles reagiria com a mesma coragem estapafúrdia, mas não sei. Se calhar tinha medo e mudava de emprego, ou migrava para assuntos menos perigosos. Logo o mais correcto seria dizer: gostava de ser Charlie, mas será que seria capaz? Não fica tão bem na foto de perfil do facebook, mas seria mais apropriado.

Depois há outra questão: a atribuição de culpa. A culpa meus amigos não é do Islão. A culpa é da política! Ah pois é. Só que falo de política enquando estudo da distribuição e exercício do poder e desse ponto de vista o que se passa aqui é muito simples. Existe uma confluência de poder espiritual e poder terreno, o primeiro conferido pela presença de alguns indivíduos no topo da pirâmide interpretativa das palavras que se sucedem umas às outras no Corão e o segundo conferido pelo respeito que alguns (outros) indivíduos recebem derivado de terem um exército às suas ordens. O poder dos primeiros depende dos segundos, pois a sua visão do que é a religião implica um controlo quase absoluto da mente, incluindo uma manipulação do que mais íntimo existe em nós, a nossa sexualidade. Para fazer isso de forma tão violenta como se faz hoje em dia em muitos países islâmicos (especialmente violenta para com as mulheres) é preciso o apoio de um poder muito terreno e mundano, aquele conferido pelo poder do bastão, da carabina e da prisão. Os segundos precisam dos primeiros, pois a aura espiritual que rodeia o seu poder terreno dá-lhes um acesso imediato aos corações e cérebros dos cidadãos. No meio disto tudo aparecem uns putos sem direcção, que em vez de arranjarem uma gaja para passar o tempo até chegarem a adultos encontram um gajo que os radicaliza e os coloca ao serviço do poder acima mencionado. Eles podem pensar que estão a lutar por algo de trasncendente, místico, omnipotente, algo que lhes dá um sentido à vida e uma identidade. Mas não, é mesmo só para satisfazer o ego de uns quantos filhos-da-puta que gostam de mandar.